30 maio 2007

o regime agradece

Que saudades dos tempos em que as greves cheiravam a luta de classes, tinham operários explorados dispostos a tudo, até a morrer, se preciso fosse, como Bobby Sands, a resistir à violência policial, a correr riscos pessoais efectivos. Em Portugal, a não ser na Iª República, nunca tivemos destas greves. Durante o Estado Novo nem era bom falar nisso, e a seguir ao 25 de Abril a greve passou a ser um exercício de luta política entre os partidos da oposição e o governo, nada, portanto, que tenha a ver com eventuais direitos dos trabalhadores. Apesar de não concordar com a coisa e de achar mesmo que devia ser legalmente proibida, não posso deixar de admirar os sindicalistas e os operários do passado, sobretudo se comparados com esta verdadeira aristocracia de chefes sindicais, dos Picanços, Proenças e Silvas, eternizados nas suas funções de «defensores dos trabalhadores», na prática altos funcionários de um Estado a quem convém a sua adormecida existência, beneficiários de regalias sindicais que o proteccionismo legal permite criar e deixa crescer. Ser, hoje, delegado sindical é, não uma missão de sacrifício, mas um interessante trabalho político. Não cansa, vale a pena e o regime agradece.

1 comentário:

Miguel Madeira disse...

"Apesar de não concordar com a coisa e de achar mesmo que devia ser legalmente proibida"

A "coisa" é o quê? A greve, em geral? Ou apenas a greve com confrontos com a policia?

(se a resposta for "a greve, em geral", vou assumir que também pretende proibir os despedimentos - afinal, quem defende que deve ser proibido suspender um contrato por um dia, por maioria de razão considerará que se deve proibir a suspensão definitiva de um contrato)