23 julho 2006

o estado improvidência

Como é certamente do conhecimento geral, a segurança, ou a falta dela, é o primeiro problema da realidade brasileira, desde há muito tempo para cá. Sobre um tema tão urgente, que deveria unir os responsáveis políticos do país, não há, contudo, qualquer convergência.
Disso mesmo tem sido exemplo a situação complexíssima que atravessa a cidade de São Paulo, onde sucessivas vagas de crimes violentos contra alvos civis e policiais, são orquestradas a partir do interior das cadeias estaduais pelos chefes do crime organizado. Em São Paulo habitam mais de dezasseis milhões de pessoas e, apesar dos seus cento e catorze presídios, continua a haver um défice de noventa mil lugares nas prisões para os criminosos.
Nesta última vaga de atentados, a instrumentalização política da crise atingiu momentos difíceis de aceitar. Lula ofereceu ao governador Cláudio Lembo a intervenção da Força Nacional de Segurança. Lembo recusou a oferta, lembrando que os homens da Força Nacional são poucos e mal preparados, deixando no ar a ideia do aproveitamento eleitoral da intervenção proposta por Lula. Esta, por sua vez, não se fez rogado e atacou Lembo: «Na sexta-feira reiteramos a proposta que já havia sido feita no primeiro atentado. Ele disse que não precisava. Eu parto do pressuposto que ele diz que tem controle. Mas se tem controle não poderia estar acontecendo o que está acontecendo». Na resposta o governador do Estado de São Paulo disse que achava o presidente «desequilibrado», o que associado aos rumores da sua eventual propensão alcoólica e a «boca» de Ronaldo no decurso do Mundial, dá para perceber o nível a que o «debate» chegou. Obviamente que as próximas eleições presidenciais, a disputar em Setembro, não são estranhas a isto. Lembo apoiará Geraldo Alckmin, seu antecessor no Palácio dos Bandeirantes, enquanto Lula corre em pista própria. Em causa está o Palácio do Planalto e o imenso poder que o seu ocupante terá à disposição.
No meio disto, nem a Federação nem o Estado de São Paulo conseguem garantir aos seus cidadãos aquele que é o primeiro direito fundamental de cidadania exigível ao poder político: a segurança de pessoas e bens. No Brasil, como um pouco por todo o mundo, o Estado contemporâneo continua a falhar naquilo que é mais importante.

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