Quando terminar o seu segundo mandato presidencial, em 2015, Aníbal Cavaco Silva concluirá um ciclo de vinte e um anos de poder, durante os quais ocupou os mais altos cargos de soberania que existem nas democracias: Ministro das Finanças (1980), Primeiro-Ministro (1985-1995) e Presidente da República (2006-2016).
António de Oliveira Salazar foi Presidente do Conselho de Ministros entre 1928 e 1968. Em 1926, logo após a revolução de Maio, foi também Ministro das Finanças, embora somente por escassos treze dias, por não lhe terem concedido os poderes de controlo orçamental que a situação do país exigia.
Feitas as contas, isto representa, ao fim de oitenta e oito anos consecutivos da nossa história contemporânea, que Portugal e os portugueses estarão sob a influência política dominante de dois homens durante sessenta anos. Os outros vinte e oito foram repartidos por momentos de transição (Marcello Caetano, o 25 de Abril e o PREC), por Mário Soares, cuja marca histórica que ficará será mais a de um resistente (ao regime de Salazar e de Caetano e ao PREC) do que a de um governante, pelo mito fugaz de Francisco Sá Carneiro, e por um sem número de experiências fracassadas de governação (os governos de iniciativa presidencial de Eanes, Pinto Balsemão, António Guterres, Durão Barroso e Santana Lopes) que não deixarão memória.
Apesar da semelhança de percursos e de formação, Salazar e Cavaco identificam-se sobretudo pelo valor mítico de referência que exerceram e exercem sobre o imaginário nacional: homens rigorosos, austeros, tecnicamente competentes e que dominam as finanças e a economia. A sua durabilidade no poder funda-se, de facto, num arquétipo político nacional, ao qual Pessoa reagia negativamente lembrando que Jesus não «sabia nada de Finanças».
Em suma: quem, à esquerda ou à direita, tiver a pretensão de conquistar e exercer duradouramente o poder em Portugal, não poderá afastar-se muito disto. José Sócrates parece que já o percebeu. A direita ainda não, nem dá vestígios de que o venha a entender nos próximos anos.
António de Oliveira Salazar foi Presidente do Conselho de Ministros entre 1928 e 1968. Em 1926, logo após a revolução de Maio, foi também Ministro das Finanças, embora somente por escassos treze dias, por não lhe terem concedido os poderes de controlo orçamental que a situação do país exigia.
Feitas as contas, isto representa, ao fim de oitenta e oito anos consecutivos da nossa história contemporânea, que Portugal e os portugueses estarão sob a influência política dominante de dois homens durante sessenta anos. Os outros vinte e oito foram repartidos por momentos de transição (Marcello Caetano, o 25 de Abril e o PREC), por Mário Soares, cuja marca histórica que ficará será mais a de um resistente (ao regime de Salazar e de Caetano e ao PREC) do que a de um governante, pelo mito fugaz de Francisco Sá Carneiro, e por um sem número de experiências fracassadas de governação (os governos de iniciativa presidencial de Eanes, Pinto Balsemão, António Guterres, Durão Barroso e Santana Lopes) que não deixarão memória.
Apesar da semelhança de percursos e de formação, Salazar e Cavaco identificam-se sobretudo pelo valor mítico de referência que exerceram e exercem sobre o imaginário nacional: homens rigorosos, austeros, tecnicamente competentes e que dominam as finanças e a economia. A sua durabilidade no poder funda-se, de facto, num arquétipo político nacional, ao qual Pessoa reagia negativamente lembrando que Jesus não «sabia nada de Finanças».
Em suma: quem, à esquerda ou à direita, tiver a pretensão de conquistar e exercer duradouramente o poder em Portugal, não poderá afastar-se muito disto. José Sócrates parece que já o percebeu. A direita ainda não, nem dá vestígios de que o venha a entender nos próximos anos.
9 comentários:
As semelhanças assinaladas são reais, mas convém não exagerar...
Haverá diferenças de credo político, sobretudo, para lá do gosto pelo rigor das contas, pela seriedade e pela passagem pelas Finanças e pela Chefia de Governos.
E quanto a cultura política, estarão certamente muito distantes, o que não será demasiado importante, pese a desclassificação que Cavaco sofreu do amuado democrata, com gestos de mau perdedor, D. Soares, finalmente desfeiteado e desmascarado nas suas apregoadas virtudes democráticas.
Corrijo o segundo parágrafo : « ... para lá da seriedade, da passagem pelas Finanças e da Chefia de Governos».
Às vezes, a pressa contende com o rigor... Da escrita, como do resto...
Caro A. Viriato,
Tem toda a razão. Mas se ler atentamente o texto, verá que não se diz que existem semelhanças para além das assinaladas.
A democracia só funciona se as pessoas se conhecerem. Eu infelizmente não conheço o presumível eng. sócrates nem o alegado dr sampaio nem o suposto dr cavaco, seu socessor. Ponto final. Por mais que mos ponham à frente no inverso de autoclismo que é a chamada televisão generalista, a única e objectiva verdade é que não os conheço. E o curioso é que nem me apetece conhecê-los, pois sou absolutamente feliz junto dos meus amigos e das pessoas que efectivamente conheço e com as quais gosto de fazer os meus negócios, de preferência sem a intermediação do estado.
E não é que o Rui tem mesmo razão...!!!
Não fará o 2º mandato.
Não por falta de apoio partidário.
Não por divórcio com o País.
Apenas porque irá descansar o corpo para a Aldeia da Coelha, na companhia da sua mulher, recebendo visitas regulares de família e amigos, e saindo para umas conferências e palestras pagas.
Salazar foi presidente do conselho de ministros só a partir de 1932. Entre 1928 e 1932 foi ministro das finanças.
Certo, caro LAS.
Até à aprovação da Constituição de 33, durante a ditadura, não existia o cargo de presidente do conselho de ministros, mas o de presidente do ministério. Aquele só foi criado pela Constituição, em resultado do fim da ditadura e pelo regresso da ordem constitucional. Independentemente desse aspecto formal, sempre havemos de convir que quem efectivamente mandava no governo era Salazar e não tanto nenhum dos três presidentes que o governo conheceu nesse período.
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