13 fevereiro 2006

guerra de civilizações ii

O editorial de hoje de José Manuel Fernandes no Público (link directo indisponível) põe o dedo na ferida: está em curso uma guerra de civilizações planeada, preparada e executada por responsáveis do mundo islâmico, nomeadamente aqueles que recusam a «modernidade» e a «democracia».
Trata-se, contudo, não de um conflito entre dois blocos territorialmente delimitados em busca de mais espaço, recursos, poder ou influência geográfica, mas de dois tipos radicalmente distintos de organização política e social, inspirados por valores e princípios diametralmente opostos. O mundo islâmico assenta e assentou sempre sobre sociedades fortemente hierarquizadas, dominadas por autocratas ou oligarquias materialmente privilegiadas, que exploram pelo terror da força bruta ou pelo temor da religião multidões de miseráveis. Sociedades onde os direitos mais elementares não são reconhecidos, as mulheres estão completamente desprovidas de direitos e vivem ainda numa condição de semi-escravidão, a miséria material predomina, e onde o Estado tem religião oficial. Nestas condições, o que os EUA fizeram no Afeganistão, mas sobretudo no Iraque, impondo as regras da democracia, dando início a um processo de igualdade individual perante a lei, pode ser, se correr bem, o princípio do desmoronamento desse mundo e dessa «civilização»: o Médio Oriente não pode ter um país democrático que sirva de exemplo aos outros. Para isso, já chega Israel.
É esta a razão desta guerra, por ora, de propaganda e de comunicação. O «Islão» está a dizer-nos que não quer os valores ocidentais e está a tentar demonstrar aos seus povos que, afinal, esses valores são bem piores do que os seus, porque não respeitam nem Deus, nem os homens. Daí o episódio das caricaturas e, agora, o filme do espancamento de iraquianos por militares ingleses.
Em boa verdade, quem começou esta guerra, ao contrário do que afirma o director do Público, fomos nós e não eles. Porque existimos, porque recebemos milhões de cidadãos provenientes desse mundo que cá vivem livremente, e porque estamos a tentar democratizar o Iraque. E ainda bem que assim é.

5 comentários:

Anónimo disse...

E o que fazemos então? Vamos para a guerra? As guerras se calhar até são coisas giras. Um tipo até se diverte bastante. E é tudo muito seguro.

Acho sinceramente que já ninguém está a "bater bem" nesta história. É os fundamentalistas de um lado e o xenófobos do outro.

Não contem comigo.

Pedro Morgado disse...

Caro Rui,

É uma excelente análise do momento actual. Não tenho dúvida que a 3ª Guerra Mundial está em marcha.

António Torres disse...

Muito bem!!!

O trágico é pensarmos como passará a ser a rua árabe, quando daqui a 20 ou 30 anos, começarmos a andar a electricidade?
Perdidos os meios para comprar coca-cola, se a quiserem então, só lhes restará areia para exportarem, talvez praias...

RS disse...

Caro Rui,

Há ocasiões em que gostava de falar de verdade com um blogger.
Esta é uma delas.

Recuso-me a acreditar que acredites mesmo que "ainda bem que é assim", embora os teus posts anteriores me tentem convencer que é mesmo assim...

Não quero alongar-me nesta "janela", mas garanto-te que tenho pena de não poder falar contigo; não para te "convencer" a ti de coisa alguma, mas para perceber porque demónios pensas assim.

Um abraço,
RS

rui a. disse...

Caro Rui,

Falo contigo sobre este e qualquer assunto com muito gosto.
Em relação ao povo do Iraque e aos povos do Médio Oriente penso exactamente o que penso em relação a qualquer outro povo do mundo: que tem direito a uma vida feliz, em liberdade, sem serem tiranizados por energúmenos que invoquem a «autoridade» de Deus, da «tradição», das armas ou seja do que for.
Se for necessário ajudar esses povos a livrarem-se desses tipos, não lhes caem os parentes na lama. Nós, por aqui, várias vezes pedimos ajuda aos ingleses, quer contra Castela, quer contra França. Nem por isso deixámos de saber defender os nossos interesses quando chegou a altura certa para o fazermos.
Quanto ao mais penso, de facto, que mercê das tiranias dominantes nesses países, os seus povos se encontram num estado de miséria e de subdesenvolvimento material e moral que não merecem. Há que ajudá-los e só os EUA têm capacidade para o fazer. Ainda que, depois, cobrem os seus serviços em petróleo ou em ligações comerciais privilegiadas. Não há almoços de graça e esse custo não me parece elevado para se «comprar» a liberdade cívica e política. Antes negociar com os americanos, do que entregar o PIB à família de um sheik, a um bando de ayhatolas ou a um tiranete de pacotilha tipo Sadam ou Kadafy. É só isto que penso.

Um abraço,