23 janeiro 2006

Três conclusões sobre a direita

Que decorrem dos resultados eleitorais de ontem:

1. A direita com expressão partidária (PSD e CDS) continua em minoria no país. Se, ontem, tivesse ido a votos, mesmo com o descontentamento popular contra o governo socialista, não teria obtido maioria no parlamento. A não ser que esteja genuína e ingenuamente convencida, que os 50,6% dos votos de Cavaco são seus.
2. A direita só chega ao poder em coligação, pré ou pós- eleitoral, dos dois referidos partidos. Nem Francisco Sá Carneiro, fundador e líder carismático do PSD, se atreveu a tentar conquistar sozinho a maioria absoluta dos lugares do parlamento: fez a AD e nela juntou o PSD com o CDS, o PPM e alguns independentes. Em mais de trinta anos de eleições democráticas, só por duas vezes consecutivas o PSD obteve sozinho aquela maioria. Curiosamente, com o homem que ontem voltou a repetir o feito.
3. A entrada, de novo, de Cavaco Silva no jogo político retirará ao personagem a dimensão sebastianista com que alguma direita foi alimentando o mito. Com a sua ida para Belém, a direita ficará mais uma vez desprovida da sua única referência mítica, referências sem as quais dificilmente consegue ter vida própria. Cavaco passou, desde ontem, de expectativa a responsável e não irá queimar o seu capital político em jogadas de bastidores. Fará aquilo que lhe compete: acompanhará o governo no melhor e no pior. Os sistemas de governo semipresidencialistas têm destas coisas: são, como os casamentos, supostamente para toda a vida.