14 dezembro 2005

liberalismo e socialismo

Um «post» de Alexandre Franco de Sousa sobre Liberalismo e Socialismo tenta estabelecer um paralelismo entre essas duas filosofias políticas.
A argumentação não deixa de ser tradicional: quer uma quer outra proporiam um mundo ideal onde a política (o Estado) não teriam existência, tentando dominar o «processo histórico» que a isso conduzisse, com governos de «comissários políticos» (a vanguarda do proletariado socialista) ou com «administradores e burocratas» (os liberais) no lugar de políticos sabedores do que é a coisa pública.
Eu poderia alongar-me na contra-argumentação e aprofundá-la convenientemente. Dizer que, para o liberalismo clássico, a política e o Estado existem, embora não sejam a mesma coisa; que esse é um erro tipicamente totalitário, que submete tudo ao Estado, primeiro a política e o seu universo humano, depois a sociedade e o indivíduo; que as formas de organização do Estado não foram sempre iguais à do modelo contemporâneo; que mesmo este último teve e tem tipos diferentes; que é por o liberalismo desconfiar da política e do Estado (porque reconhece as suas existências e, pelo menos quanto à primeira, a sua inevitável perpetuidade) que quer delimitar as competências e os poderes de quem por lá anda; que é por serem profundamente realistas em relação ao género humano, que os liberais desconfiam de quem os governa e de quem os quer governar; que a ideia de liberdade se traduz, para o liberalismo clássico, na garantia dos direitos individuais e que estes podem ser assegurados por um contrato social estabelecido entre um número maior ou menor de homens; que o Estado foi o modelo de contrato social assumido in illo tempore sob determinadas condições; que essas condições têm sido unilateralmente modificadas sem o livre consentimento dos seus destinatários; etc, etc, etc. Por fim e em suma, que isto (e muito mais) é tão parecido com o socialismo, como o cão faz lembrar o gato, estendendo-se as similitudes ao bom e conhecido relacionamento que existe entre aquelas duas classes (não no sentido marxista) do reino animal.
Mas, por mais que replicasse, haveria sempre dois argumentos invocados para os quais não conseguiria encontrar resposta.
Um, o de que o liberalismo político assenta o seu programa de intervenção «no desmoronamento do império soviético no leste e centro da Europa». O outro, que o mesmíssimo «liberalismo político» está furiosamente em marcha, aí pelo mundo fora, a substituir políticos devotos à «causa pública», por frios e inumanos tecnocratas.
É que, por um lado, há liberais e liberalismo muito antes de qualquer guerra ocorrida no século XX. Para não irmos mais atrás, sob pena de sermos acusados de arqueologia política, poderíamos começar pela grande maioria dos jesuítas da Escolástica Tardia e continuar em frente, sem parar, até ao ano de 1989.
Por outro lado, e por mais que me esforce, não consigo ver liberais com responsabilidades governativas de primeiro plano em lado nenhum. O que vejo, de facto, são burocratas e burocracias de Estados altamente organizados para intervirem na vida dos cidadãos. Isso, desculpe lá, caro Alexandre Franco de Sousa, liberalismo não é, pelo menos como o descrevem os canhanhos dos clássicos. Será, certamente, intervencionismo e socialismo na maior parte dos casos. Nacional ou outro qualquer.

3 comentários:

João Melo Alvim disse...

Para mim, durante anos, o conceito de liberalismo e liberal pertencia a meia dúzia de páginas (exagero, claro) do livro de História do 11º ano. Eram conceitos "bons", quando se falava de política, por oposição aos "maus" - absolutismo e quanto à economia, parecia um bocado a lógica do "eles não sabiam bem o que faziam, por isso até parece que tinha lógica". Isto é, uma época dada a correr, conceitos pouco tratados e uma névoa à volta do liberalismo. Acho que um "bom aluno" seria aquele que o associasse à década de 20 do século XIX e o arrumasse a seguir. Simplificações à parte, também não encontrei na Faculdade quem falasse em Liberalismo, nem em ser Liberal. A minha prática política também não contemplava grandes "abertas", mas a curiosidade intelectual e a disponibilização de mais informação (abençoados Blogs), permitiram-me um "choque ideológico". Que, a ver pelo post referido, muito boa gente está a precisar.

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