20 dezembro 2025

NÃO SERVE PARA NADA

 

A rejeição da IA repete a história dos telefones e dos PC’s

Sempre que surge uma tecnologia verdadeiramente transformadora, a reação inicial tende a ser a mesma: desconfiança, desdém e, muitas vezes, escárnio. A inteligência artificial (IA) não é exceção. O curioso é que os argumentos usados hoje contra a IA são quase idênticos aos que, no passado, foram usados contra o telefone e contra o computador pessoal.

Quando o telefone apareceu, no final do século XIX, muitos consideraram o aparelho inútil. Empresários e instituições sérias defendiam que a comunicação escrita era superior, mais fiável e mais profissional. Falar à distância parecia impreciso, invasivo e pouco sério. O telefone foi visto como um brinquedo, não como uma ferramenta de trabalho. Hoje, essa crítica soa absurda. A nossa vida pessoal, profissional e social seria impensável sem chamadas, mensagens de voz ou videoconferência.

O mesmo aconteceu com os computadores pessoais. Durante décadas, o computador foi encarado como uma máquina para grandes empresas, universidades ou governos. “Para que serviria um computador em casa?”, perguntavam muitos. Os primeiros PC’s eram caros, lentos e tinham poucas aplicações práticas. Ainda assim, mudaram tudo: a forma de trabalhar, de estudar, de criar, de comunicar e até de pensar. Tornaram-se uma extensão da mente humana.

A rejeição atual da inteligência artificial segue exatamente este padrão. Diz-se que a IA “alucina”, que se engana, que não compreende verdadeiramente, que é perigosa ou que vai tornar as pessoas mais preguiçosas. Em grande parte, estas críticas descrevem limitações reais. Mas também descreviam limitações reais dos primeiros telefones e dos primeiros computadores. O erro está em confundir imperfeições iniciais com inutilidade estrutural.

Tal como o telefone não mudou o mundo por causa da qualidade do som, e o PC não mudou o mundo por causa da velocidade de cálculo, a IA não vai mudar o mundo por ser perfeita. Vai mudá-lo porque reduz drasticamente o custo de pensar, escrever, planear, analisar e criar. Vai democratizar competências que antes estavam reservadas a poucos. Vai alterar profissões, processos e decisões — como já começou a fazer.

Há, claro, uma diferença importante: a IA mexe diretamente com o domínio cognitivo, algo que muitos consideram exclusivamente humano. Isso torna a reação emocional mais forte. Mas a história sugere cautela. As tecnologias que mais transformam a sociedade são precisamente aquelas que, no início, parecem estranhas, desconfortáveis ou ameaçadoras.

Rejeitar a IA hoje porque ainda falha é como rejeitar o telefone porque a linha cai, ou o PC porque bloqueia. Telefones e computadores mudaram a vida de forma irreversível. A inteligência artificial seguirá o mesmo caminho. A única incógnita não é se terá impacto — é quem estará preparado para ele.

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