(Continuação daqui)
5. O Marquês
Também falámos do Marquês de Pombal no podcast. Julgo que foi a propósito de uma declaração minha sobre o meu próprio americanismo.
Eu sou um grande admirador da América, na realidade, como economista, olho para os EUA como o maior milagre económico da humanidade. Os EUA vieram resolver um problema com que a humanidade se debatia desde as suas origens - o problema de saber como tirar, em massa o homem da miséria.
Pessoas ricas sempre houve em toda épocas e em todos os lugares. Mas eram poucas no meio da pobreza generalizada. A América foi a primeira sociedade humana a tirar, em massa, o homem da pobreza. Por isso continua hoje a ser tão procurada.
O ano de 1776 foi, a este respeito, um ano sagrado. Foi o ano da independência americana e o ano da publicação do livro "A Riqueza das Nações" do filósofo escocês Adam Smith que pela primeira vez teorizava sobre o liberalismo económico moderno, a organização económica de um país baseada no mercado, a célebre "mão invisível".
Os pais fundadores americanos, muitos de origem escocesa e calvinista, como Adam Smith, eram familiares com a obra do filósofo e instituíram a economia americana assente nas suas ideias. Resultado: produziriam o mais rico e poderoso do mundo.
Parece uma ironia. Ao mesmo tempo que Smith desempenhava um papel fundamental na criação daquela que em breve se tornaria a economia mais rica e poderosa do mundo, o mesmo Smith, no mesmo livro, apresentava como exemplos radicalmente opostos das suas ideias dois países, Espanha e Portugal, que ele descreveu como "atrasados", "miseráveis" e "mal governados".
Nessa altura governava Portugal o Marquês de Pombal. A riqueza produzida pela mão invisível de Adam Smith contrastava com a pobreza da mão visível do Marquês, num país onde nada se podia fazer sem a sua autorização.
Enquanto a Inglaterra e os seus descendentes na América do Norte, EUA e Canadá, enriqueciam pela abertura às novas ideias liberais, Portugal e Espanha, e os seus descendentes na América Latina, embruteciam às mãos dos seus respectivos déspotas, como o Marquês de Pombal.
É um dos maiores paradoxos da cultura portuguesa celebrar o Marquês de Pombal no centro das principais cidades do país, com destaque para a própria capital, em praças, em ruas, até em escolas. Uma das raras excepções é Braga, a capital do catolicismo em Portugal, donde o Miguel Milhão é natural. Os padres não gostavam dele, e com razão.
A Enciclopédia Portuguesa e Brasileira encerra o artigo dedicado ao Marquês dizendo que ele foi o governante mais cruel da nossa história. Pois é este facínora que é ainda hoje celebrado nas principais cidades e vilas do país. Até a TAP tem um avião com o seu nome.
Na conversa com o Miguel Milhão tive ainda oportunidade de resumir numa só palavra a opinião que numa longa biografia, o Camilo Castelo Branco tinha sobre o Marquês. Deixei-a registada neste blog vai para 16 anos: cf. aqui.
(Continua acolá)

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