Num longuíssimo artigo (como é próprio da cultura jurídica portuguesa), citando a Idade Média (onde a cultura jurídica portuguesa estacionou), o juiz Maximiano do Vale, vice-presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, explica na revista Visão, sob o título "Férias judiciais: um mito interminável" (cf. aqui) aquilo que nós não sabíamos: Afinal, as férias judiciais não são férias.
Cito um parágrafo, só para amostra (ênfases meus):
"Em Portugal, o regime das férias judiciais consolidou-se no século XIX, assumindo hoje um desenho que, pese embora a infelicidade da designação que tem perdurado, já não reflete, materialmente, uma herança arcaica, mas antes corresponde a um princípio de gestão dos recursos da justiça numa sociedade moderna e complexa. Pese embora assim seja, e nesse regime se possam encontrar uma multiplicidade de razões benignas que justifiquem a sua existência, a verdade é que o termo que o designa é profundamente responsável pela perceção errada que muitos têm sobre este período que se iniciou no passado dia 16 de junho".
Coisa mais engraçada é difícil de encontrar. Ainda bem que a revista Visão vai desaparecer (cf. aqui). Só é pena que a Associação Sindical dos Juízes Portugueses não desapareça com ela.
Um sindicato de juízes é uma coisa inaceitável numa sociedade democrática. Significa que os juízes reconhecem a existência de um patrão - o Governo - tornando uma farsa o princípio da independência do poder judicial.
Mas se um sindicato de juízes é já de si uma coisa inaceitável, ser representado pelo juiz que assina este artigo torna-se uma coisa tenebrosa. Ele diz que o branco é preto, que férias não são férias. Este é um juiz que amanhã é capaz de dizer que o criminoso é inocente e que o inocente é criminoso.
O artigo é orwelliano. Se é este o calibre intelectual que o sindicato dos juízes tem para exibir em público, o melhor é fechar portas.

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