(Continuação daqui)
59. O pêndulo
O movimento do post-liberalismo, que parece estar por detrás da agenda política da nova Administração Trump pretende, afinal, o quê, e em que é que a Igreja Católica pode contribuir para esse objectivo?
Pretende corrigir o desequilíbrio que o protestantismo produziu entre o indivíduo e a comunidade, entre a liberdade e a autoridade, entre o bem individual e o bem comum:
"Postliberalism starts from a different premise: that some formulation of the common good is more important than individual rights. The common good is not (as political liberals have generally assumed) an aggregation of individual preferences socialising within a cluster of just institutions. Postliberalism orients itself around community and ethical/personal values in ways that might trump a full panoply of individual rights. The common good of a people, the deeper associative values of a religion or a community, the sovereignty of a state… these are the concept-norms that present postliberalism as a distinct political ideology" (cf. aqui).
O post-liberalismo é um apelo ao equilíbrio que permita corrigir os excessos a que o individualismo liberal conduziu na América e, por extensão, um pouco por todo o mundo, enfatizando os valores da comunidade, da autoridade e do bem-comum em detrimento, respectivamente, do indivíduo, da liberdade e do bem individual.
Não apenas a Igreja (uma palavra que, do grego ekklesia, significa comunidade) é especialista em comunidade e no bem-comum (cf. aqui), como o catolicismo possui um efeito moderador nas sociedades humanas onde está presente que, à falta de melhor justificação, eu próprio já chamei de milagre:
"Nas sociedades de tradição protestante, onde a Igreja Católica não é uma instituição central, certos comportamentos que representam excessos, vícios ou exageros não podem ser tolerados, sob pena de a sociedade ficar em risco e, no limite, se desmoronar. Daí a tradição proibicionista do protestantismo, que visa limitar as oscilações do pêndulo dentro de limites bem definidos. Pelo contrário, na tradição católica, o pêndulo pode oscilar livremente entre os seus extremos, porque a acção invisível, mas moderadora da Igreja Católica, está lá para o trazer de volta à posição de equilíbrio. (...)
"Eu não estou certo de saber como é que a Igreja Católica consegue operar este milagre. Mas que ele existe, existe, e eu próprio sou uma das suas manifestações. Se há vinte anos me tivessem perguntado se eu alguma vez me veria na posição de defender convictamente as posições da Igreja Católica como remédio para os males da sociedade portuguesa, eu teria respondido com um rotundo Não. E, no entanto, é o que se vê".
Fonte: cf. aqui
(Continua acolá)
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