23 janeiro 2025

O Muro da Vergonha (9)

 (Continuação daqui)



Fonte: cf. aqui


9. A razão da sem-razão

A decadência da cultura católica face à cultura protestante, expressa no Muro da Vergonha, tem uma longa história.

Fez recentemente 420 anos que Cervantes identificou genialmente a sua causa com a publicação da sua obra-prima - uma causa que ainda hoje persiste nos dois países ibéricos bem como nos países que eles colonizaram por todo o mundo.

As elites ibéricas - na figura de D. Quixote - tinham-se tornado  irrelevantes, irracionais, tinham perdido a Razão à custa de invocar razões para justificar tudo e nada, para suportar aquilo que faziam (e, em muitos casos, não deviam fazer) e aquilo que não faziam. (e, em muitos casos, deviam fazer)

A frase que melhor resume tudo isso é proferida pelo próprio D. Quixote, dirigida a Dulcineia:

“La razón de la sinrazón, que a mi razón se hace, de tal manera mi razón enflaquece, que con razón me quejo de la vuestra fermosura”

Até a sem-razão, a ausência de razão, tem uma razão. A cultura católica banalizou de tal maneira a Razão em mil e uma razões que perdeu a Razão, tornando-se uma cultura largamente irracional.

Esta cultura aristocrática que se tornou irracional e irrelevante acaba na figura do fidalgo falido (a saltar muros como na América Latina, ou de mão estendida, como na Península Ibérica), que é a própria figura de D. Quixote - o fidalgo falido

O Muro da Vergonha separa a racionalidade popular que preside à cultura protestante dos EUA face à irracionalidade aristocrática que reina na cultura católica  da América Latina, herdeira de Espanha e Portugal.

(Continua acolá)

Sem comentários: