(Continuação daqui)
4. Juan
O Muro que separa os EUA do México não é apenas uma protecção da América rica contra as hordas de pobres que vêm da cultura católica da América Latina. É também uma protecção da democracia liberal norte-americana contra a cultura católica e anti-democrática dos latino-americanos.
O catolicismo ataca a democracia liberal sempre no mesmo sítio - a Justiça.
O Presidente Trump é um exemplar quase perfeito da cultura fundadora dos EUA - a cultura WASP (White, Anglo-Saxonic and Protestant). Uma parte da sua família tem origem na Escócia (a outra na Alemanha), a região mais agressivamente anti-católica e calvinista da Grã-Bretanha. Na Escócia nasceu também Adam Smith, o autor que influenciou decisivamente o sistema económico dos EUA, o qual viria a tornar o país a maior potência económica do mundo.
Há pouco tempo uma veterana do Senado americano lamentava-se que, na sua juventude, nunca iria imaginar que a Justiça nos EUA seria politizada, e a política judicializada, com os políticos a desejarem meter os seus adversários na cadeia. Eu próprio, que há 40 anos vivia na América do Norte, nunca imaginei que tal pudesse acontecer.
Mas, nos últimos anos, aconteceu. Por isso, não é surpreendente que uma das prioridades anunciadas ontem pelo Presidente Trump seja a de restaurar a imparcialidade da Justiça (cf. aqui).
Quando, há poucos anos, surgiram os primeiros sinais nos EUA da promiscuidade entre Justiça e Política, a minha primeira reacção foi a de atribuir esse fenómeno à crescente população de cultura católica imigrada nos EUA, com destaque para aquela que vinha da América Latina (cf. aqui).
Quando, a partir do século XVI, o protestantismo partiu a comunidade católica, ele próprio rapidamente se cindiu em seitas, as quais mais tarde dariam lugar aos partidos políticos. Os partidos rivalizavam uns com os outros, e frequentemente odiavam-se mutuamente. Por isso, era importante que a Justiça, na qualidade de árbitro do jogo social, fosse independente e imparcial em relação a eles.
Daqui surgiu a ideia da separação de poderes - uma ideia que embora teorizada pelo francês Montesquieu, foi primeiro posta em prática em Inglaterra. A ideia da separação do poder judicial em relação ao poder político visava tornar a justiça imparcial entre os diferentes partidos em confronto pelo poder político. A ideia da imparcialidade da Justiça é, por isso, uma ideia distintamente protestante e é central à moderna democracia partidária.
Na cultura católica, pelo contrário, não há separação de poderes, os quais estão todos concentrados nas mãos do mesmo homem (Papa, rei absoluto, ditador), sendo a Justiça um instrumento ao serviço do poder político. Trata-se de uma justiça parcial que está sempre ao serviço de quem manda.
Uns dias antes da sua Inauguração como Presidente, um juiz de Nova Iorque chamou Donald Trump a tribunal para o condenar a uma pena de prisão, o que acabou por acontecer (embora com uma dispensa incondicional de cumprimento da pena). Trump é, assim, o primeiro presidente americano que assume o cargo na condição de criminoso.
Tive imediata curiosidade de saber quem era o juiz autor de uma tamanha façanha, e a primeira informação que obtive era a de que se chamava Juan M. Merchan (cf. aqui).
-Juan!?
A minha tese parecia confirmar-se. O juiz devia ter origem na cultura católica da América Latina, era um batoteiro, e o processo era político - a típica perseguição pessoal e política através do sistema de justiça, em que os povos de cultura católica são especialistas.
Mas faltava uma confirmação, o que significaria o M. no meio do seu nome? Seria McGregor, MacDonald, Malcolm, o que poria em dúvida a minha tese?
Em breve cheguei à resposta: Manuel.
O juiz chama-se Juan Manuel Merchan. O resto quase se adivinha. Nasceu na Colômbia e aos seis anos de idade emigrou com a família para os EUA.
Que ironia, um homem nascido num país de cultura católica, cuja família emigrou para os EUA, o país que o tornou juiz, a querer pôr na prisão um quase-perfeito WASP, presidente indigitado do país que mais tem contribuído para tirar a humanidade da miséria, incluindo a família do juiz colombiano.
O Presidente Trump que mande as tropas para a fronteira com o México, rapidamente e em força, como prometeu. Caso contrário, um dia ainda vai preso e, pior que tudo, a democracia acaba nos EUA. Cortesia da cultura católica dos latino-americanos que para lá emigram.
(Continua acolá)
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