28 janeiro 2025

O Muro da Vergonha (16)

 (Continuação daqui)



16. O herói

A cultura católica é uma cultura revolucionária e de heróis. O carácter revolucionário desta cultura é sugerido oficialmente pela própria Igreja Católica ao encorajar o povo, quando estiver insatisfeito com os poderes públicos, a pegar em armas e a revoltar-se, desde que estejam satisfeitas certas condições (cf. aqui).

De braço dado com as revoluções vêm os heróis. O gosto da cultura católica pelos heróis ao ponto da insanidade é talvez o aspecto mais bem retratado por Cervantes na  figura de D. Quixote. Escusado será dizer que a maior parte dos heróis são meramente quixotescos e alguns, como Che Guevara, verdadeiros criminosos.

Quem visitar um país católico da América Latina (ou Portugal e Espanha que lhe transmitiram a cultura), vai ver que a sua história é marcada por datas de revoluções, e pelos seus heróis (a propósito: cf. aqui), de que o paradigma é, talvez, Simón Bolívar. As datas das revoluções dão nomes às ruas e avenidas das cidades e são feriados nacionais (festivos, em espanhol), contribuindo para a fraca ética do trabalho que caracteriza a cultura católica - mais uma revolução, mais um feriado.

Para ilustrar este ponto, o melhor é até dar como exemplo Portugal. São feriados 25 de Abril, 5 de Outubro e 1º de Dezembro, tudo datas a assinalar revoluções, e há ainda quem comemore o 28 de Maio e o 25 de Novembro. Heróis também não faltam e em todas as variedades, como o Marechal Gomes da Costa, Salgueiro Maia ou Camilo Mortágua.

Esperava-se que esta cultura revolucionária e de heróis produzisse países muito prósperos. Mas, infelizmente, saiu tudo ao contrário, como a D. Quixote. Nos países da América Latina os seus nacionais andam a saltar muros, enquanto na Europa, e nos países que lhe deram origem, a vergonha é mais escondida, andam discretamente de mão estendida.

Perante a ofensiva avassaladora do Presidente Trump em relação à imigração vinda dos países da América Latina, esperava-se que algum herói se levantasse para lhe fazer frente. E, na realidade, assim aconteceu. Chama-se Petro, Gustavo Petro e é Presidente da Colômbia.

Depois de dois aviões terem aterrado na Colômbia com deportados da América, o Presidente Petro anunciou que não autorizava a aterragem de mais aviões dessa natureza vindos dos EUA.

O Presidente Trump não perdeu tempo e ameaçou-o com uma guerra comercial e com a proibição de entrada de colombianos nos EUA. Tanto bastou para o Presidente Petro se ir abaixo e dar o dito por não dito (cf. aqui).

O seu heroísmo durou dez horas.  Mas não terminou sem uma declaração grandiosa e ameaçadora dirigida ao Presidente Trump, uma espécie de "Agarrem-me senão eu mato-o":

"Overthrow me, President, and the Americas and humanity will respond".  (cf. aqui)


(Continua acolá)

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