(Continuação daqui)
XIII. Ordem
Na cultura católica, os valores prevalecentes na sociedade vêm de cima. A cultura católica é uma cultura hierarquizada e aristocrática. A própria Igreja Católica tem três níveis de hierarquia bem definidos, o padre, que se ocupa da paróquia; o bispo, que reina na diocese, e o Papa que governa a humanidade inteira.
Os tiques aristocráticos são visíveis por toda a parte, no tratamento dos bispos por Dom, nos anéis cardinalícios e nas vestes distintivas da alta hierarquia católica. A própria religião é transmitida de cima para baixo, dos padres para os leigos, uma palavra que diz tudo acerca da maneira como o clero católico olha para o povo (ignorantes).
Não é assim na cultura protestante onde nasceu a democracia. Os valores prevalecentes na sociedade vêm de baixo para cima. Alexis de Tocqueville, o autor liberal e aristocrata católico, que retratou magistralmente os EUA poucos anos após o seu nascimento, ficou impressionado, por exemplo, como os americanos praticavam os valores religiosos nos seus assuntos diários, como a boa-fé, o respeito pela palavra dada, etc.
Quer dizer, na cultura católica, o povo reflecte a personalidade dos governantes. Na cultura protestante é ao contrário, é o povo (na realidade, a massa) que condiciona o comportamento dos governantes.
Por exemplo, após a derrocada do socialismo em 1989, o Papa João Paulo II publicou a Encíclica Centesimus Annus (muito provavelmente redigida pelo cardeal Ratzinger, futuro Papa Bento XVI) onde proclamava a superioridade do capitalismo sobre o socialismo. Trinta anos depois, o Papa Francisco é um socialista convicto e um adversário radical do capitalismo. Em matérias que estão para além da teologia, não se pode confiar na Igreja Católica, diz hoje uma coisa e amanhã outra, segundo a personalidade de quem está no poder.
É assim também num país de cultura católica como Portugal. Salazar era um homem muito cumpridor, extremamente escrupuloso que fazia contas ao cêntimo e o Estado Novo reflectia a sua personalidade, sendo exemplarmente cumpridor nos compromissos que assumia. Depois, com o 25 de Abril, o povo ascendeu ao poder e no povo católico há de tudo, desde pessoas extremamente honestas até aos maiores caloteiros. O Estado português passou a reflectir a influência destes últimos e tornou-se o maior caloteiro do país, uma situação que se mantém ainda hoje.
A liberdade que vem com a democracia em breve é transformada pelo povo católico em permissividade, onde tudo é aceite e tudo é possível, os bons e os maus comportamentos, transformando as instituições naquilo que o povo correntemente chama uma bandalheira.
Quando isto acontece e se generaliza, como parece estar a acontecer em vários sectores da vida pública portuguesa - na saúde, na justiça, na educação, até no Parlamento - é o próprio povo que clama por ordem, pelo regresso a uma liberdade ordeira que substitua a liberdade anárquica que reina nas instituições.
Ora, a ordem é um importante valor militar e é, em última instância, imposta pelos militares. Não surpreende que o Almirante Gouveia e Melo esteja tão à frente nas sondagens para Presidente da República. O povo chama por um militar que venha pôr ordem nas coisas.
(Continua acolá)
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