17 maio 2024

A Decisão do TEDH (176)

 (Continuação daqui)

Quequé


176. Crueldade sem limites

Quando fiz o meu comentário televisivo, eu não sabia quem tinha escrito o Protocolo que estava no centro da discussão. Por isso, visei o director da Cuatrecasas-Porto que é suposto saber o que se passa lá dentro e o que sai cá para fora.

Quando a Cuatrecasas se queixou de mim ao Ministério Público disse que quem escreveu o Protocolo foi a advogada Raquel Freitas. Ora, na véspera de ela depôr como testemunha, eu disparei daqui um post com o título "A Quequé dos Protocolos" (cf. aqui). Foi numa altura em que os advogados da Cuatrecasas interiorizavam que ainda poderiam vir a ser constituídos arguidos por virtude dos interrogatórios do magistrado X.

A Quequé ficou perturbada. Quando o magistrado lhe perguntou quem tinha escrito o Protocolo, ela começou por dizer que tinha sido um trabalho de equipa. Mas o magistrado insistiu, perguntou-lhe, dentro da equipa, quem tinha sido o autor de raiz (sic).

A Quequé ficou em silêncio por uns momentos e depois respondeu:

-Não me lembro (cf. aqui).

A estrutura corporativa ou societária de uma máfia legal como a Cuatrecasas permite irresponsabilizar quem tenha cometido um crime ou feito uma patifaria dentro da sociedade, dando a  qualquer dos advogados a possibilidade de se esconder atrás dos outros. Seria impossível para um advogado em prática liberal.

Mas a irresponsabilidade vai mais longe, tornando-se criminosa e cruel, e o melhor exemplo que tenho para oferecer respeita ao Cristiano Ronaldo. O Ronaldo contratou a  sociedade de advogados Garrigues - a maior de Espanha e da Europa continental - para lhe tratar dos impostos. Devem ter-lhe cobrado uma fortuna e o próprio Ronaldo diria mais tarde que pagava sempre um bónus de 30% acima do preço que lhe pediam para que tudo fosse feito correctamente e com competência.

Os advogados da Garrigues, para justificar a fortuna que receberam, elaboraram então um complexo esquema fiscal que, na prática, resultava em pura fuga ao fisco. A Autoridade Tributária espanhola descobriu o esquema e o Ronaldo acabou a responder em tribunal e condenado a pagar cerca de 20 milhões de euros, sob pena de ir parar à prisão (cf. aqui).

Quer dizer os advogados da Garrigues que cometeram o crime de evasão fiscal, e ganharam uma fortuna com isso, puseram-se ao fresco e quem acabou a fritar em tribunal foi o Ronaldo. Esta humilhação terá sido decisiva para ele sair de Espanha.

Doía o coração vê-lo a responder no tribunal, ele que é um profissional exemplar do seu ofício (cf. aqui). (Os advogados presentes na sala são de outra sociedade que ele teve de contratar para se defender)

Quando são apertados pelas autoridades, os advogados das grandes sociedades abandonam o seu cliente, põem-se ao fresco, e se necessário, até o denunciam. Nos crimes que cometem, ou não há criminosos ou os criminosos são sempre outros, nunca eles. Coube desta vez ao Ronaldo. 

Eles nunca cometem crimes. É outra característica da máfia. São todos uns santinhos, que podem ser de uma crueldade sem limites.

(Continua acolá)

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