POSFÁCIO do meu livro
O ASSASSINATO DO POMBAL
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É difícil imaginarmos o impacto do terramoto de 1755. Algo de imprevisível, mas tenebroso. Um abalo que reverberou na alma dos portugueses e que questionou a crença num Deus misericordioso.
Dezenas de milhares de mortos, o caos provocado pelo tumulto da terra, da água e do fogo. A retaliação dos Deuses pagãos, vingativos e incontroláveis, sobre o Deus encarnado em Jesus Cristo, o Deus do Bem e do Amor.
Que sacrifícios nos exigem estes Deuses primitivos? Que oferendas apaziguarão os seus desígnios? De que sobras de dignidade ainda dispomos para oferendas? Sem
tetos, nem alimentos, sem família e sem amigos; tantos mortos e outros tantos incapacitados.
Sobra a LIBERDADE! Se a rendermos, talvez Dioniso se sinta saciado. Talvez Apolo emerja e o Sol brilhe de novo. Mas quem é que inspirará a ordem?
Infelizmente não há Deuses na Terra, apenas homens. Tão imperfeitos e cruéis como o mundo que os gerou. Mas no nevoeiro da tragédia é fácil sonhar com a bondade, quando à nossa volta só vê crueldade.
Os impostores não tardam a aparecer, quando os procuramos de mão estendida e Pombal foi essa figura que prometia tirar-nos do caos, mas que só nos afogou num terramoto político e social, banhado de sangue e de terror.
Neste século XXI, os portugueses poderão ainda transportar as feridas do terramoto e o efeito das Providências fatais do Ditador das Trevas?
A pergunta não é retórica. Eventos como o terramoto deixam marcas que passam de geração em geração, talvez por hereditariedade epigenética ou apenas por processos culturais. O medo de arriscar, o medo de viver, a superstição e um certo pessimismo que é o nosso fado.
Por outro lado, a máquina de poder montada pelo Pombal poderá ter perdurado até à atualidade?
Em termos de hipótese, respondo afirmativamente às duas perguntas que formulei. Sim, ainda podemos transportar feridas psicológicas do terramoto e estigmas da ditadura pombalina.
Como modo, duas importantes dimensões culturais identificadas pelo Geert Hofstede, em que Portugal está nos extremos:
1. Aversão ao Risco (AR)
2. Distância ao Poder (DP)
Os portugueses eram conhecidos por serem aventurosos e desafiarem o tenebroso Mar Oceano. O que é que revirou a nossa cultura? 1755?
A DP mede a tolerância aos abusos do poder. Como é que se instalou? Talvez Síndrome de Estocolmo, quando somos sequestrados por um déspota.
Acresce que a filosofia pombalina que atribuía ao rei preponderância sobre a Lei, perdura até aos nossos dias na figura do Estado. Em Portugal, no século XXI, os portugueses não são cidadãos de pleno direito, ainda são súbditos do poder discricionário do Estado. O Pombal sacralizou o Estado e quem se revolta é um herege que tem de ser cancelado.
Que fazer?
Em relação aos estigmas do terramoto, é necessário adotarmos uma postura utilitarista. Devemos viver como se a vida fosse eterna, sabendo que pode acabar a qualquer instante. Cabe aos filósofos (que não temos) passar esta mensagem.
Em relação à Síndrome de Estocolmo: É necessário matar o criminoso e recuperar a nossa liberdade. Mais vale morrer de pé do que viver de joelhos!
Não há Salvadores, nem homens Providenciais, nem Ditadores Iluminados. Essa figura patriarcal tem de ser morta na nossa psique. Foi isso que pretendi ilustrar com a morte literária do Pombal, no dia 6 de setembro de 1771.
Heróis são os que matam os tiranos e reconquistam a liberdade perdida.
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