Aquilo que se está a passar agora em Portugal com a Justiça e com o Ministério Público, em particular, é bem representativo de uma das características da cultura portuguesa - o seu carácter anti-reformista.
A Reforma foi o movimento religioso do século XVI contra os abusos da Igreja Católica e que deu origem ao protestantismo. O reformismo é uma característica da cultura protestante - a capacidade para de forma contínua ir gradualmente ajustando as instituições à realidade em mutação.
Portugal e Espanha, do lado da Igreja, lideraram o movimento da Contra-Reforma de tal maneira que ainda hoje portugueses e espanhóis são especialistas mas é em boicotar reformas, não em fazê-las.
Mas, então, se os países católicos, como Portugal, não mudam pelo processo gradual e reformista, como acontece com os países protestantes, se passam o tempo a falar de reformas (como a da Justiça), mas nunca as fazem, então como é que eles mudam?
Mudam de supetão, de forma brusca, por revoluções, revoltas, manifestações coléricas de massa.
Durante décadas, o Ministério Público abusou os portugueses - escutas telefónicas, acusações de inocentes, arrestos indevidos, buscas espectaculares, violações do segredo de justiça, a lista não tem fim - e os portugueses aguentaram, voltaram a aguentar e continuaram a aguentar sem protesto.
Até que parece que chegou o momento da revolta e agora não há quem os pare.
A primeira a saltar do lugar - a coisa parece estar iminente -, é a Procuradora-Geral da República. E logo a seguir há o risco de que salte o Presidente da República.
No fim de contas, foram eles os dois que aparentemente se entenderam sobre o célebre parágrafo que deitou abaixo um governo de maioria absoluta.
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