04 fevereiro 2024

A crise da democracia partidária (1)

 


1. Partidos

-Mas por que tem esse horror aos partidos?

E Salazar, explicando-me claramente o seu pensamento:

-Está enganado... Eu não tenho horror aos partidos, dum modo geral; tenho horror ao partidarismo em Portugal. A Inglaterra vive, pode dizer-se, há séculos com os seus dois partidos alternando-se no poder, e até ao presente tem-se dado bem com isso. A educação cívica do povo leva as massas deslocarem-se entre os dois, levadas por grandes movimentos de ideias, ou por grandes aspirações, ou por necessidades nacionais. Em Portugal, porém, esses agrupamentos formaram-se à volta de pessoas, de interesses mesquinhos, de apetites, e para satisfazer esses interesses e apetites. Ora, é essa mentalidade partidária que tem de acabar, se queremos entrar num grande período de renovação.

(Salazar, Entrevistas a António Ferro) 


Os partidos são criações dos países protestantes do norte da Europa, que renunciaram à comunhão com a Igreja Católica. São instituições anti-comunitárias, as versões laicas das seitas protestantes que, como o seu nome indica, partem a comunidade em seitas ou facções.

A cultura católica de Portugal é uma cultura mimética e imita tudo aquilo que há no mundo. Por isso, também havia de imitar os partidos. Mas, como geralmente sucede com as imitações, raramente elas são como o produto original.

Na citação acima, Salazar põe a claro um pequeno detalhe que tem consequências catastróficas para a imitação. Na sua versão original, os partidos estão centrados em ideias ou ideologias, ao passo que na imitação portuguesa, eles estão centrados em pessoas, convertendo-se facilmente em tribos.

É essa mentalidade tribalística que é ruinosa para a nação.

(Continua acolá)


Sem comentários: