18 janeiro 2024

GESTÃO DA SAÚDE

GESTÃO DA SAÚDE

 

“Os preços são a bússola da gestão”




A Gestão da Saúde (GS) pode ser considerada uma subespecialidade da Gestão, como as especialidades médicas, a Cirurgia ou a Cardiologia, são subespecialidades da Medicina.

 

Qualquer subespecialidade não pode, como é óbvio, falsificar os princípios gerais da disciplina mãe. Caso contrário constituiria uma revolução que poria em causa o paradigma dominante (Thomas Kuhn).

 

O objecto da GS tem, portanto, de se enquadrar no âmbito geral da gestão, que é criar utilidade para os consumidores. Ora como é que se mede essa utilidade? Como é que os gestores sabem que estão a criar utilidade? Pelo mecanismo de preços.

 

Quem vai ao supermercado verifica que os produtos mais desejáveis (os que criam mais utilidade para o cliente) são mais caros e as empresas que os fabricam dão mais lucro aos acionistas. O gestor de sucesso tenta gerar mais-valias colocando no mercado produtos melhores.

 

Sem o mecanismo de preços não há feedback e gerir torna-se impossível; seria como fazer uma consulta médica pelo telefone, sem examinar o doente nem ter acesso a exames complementares. É possível administrar uma entidade que não se oriente pela utilidade criada, o que não é possível é geri-la de forma eficaz.

 

O exército é um exemplo de entidades que são administradas sem estarem submetidas à disciplina da gestão, mas em que os generais, em abono da verdade, nunca se tentaram fazer passar por CEO’s.

 

O Serviço Nacional de Saúde, por “design”, também não pode ser gerido porque é gratuito (ou tendencialmente gratuito) no acesso. Os responsáveis administram segundo métricas que consideram ser as melhores para os utentes, mas estes não são ouvidos nem achados e daí o desagrado constante.

 

A GS tem o seu lugar no sector privado, mas no SNS é um embuste. Uma justificação para colocar apparatchiks nas administrações hospitalares e tentar ludibriar o público com a ideia de que estão a gerir os recursos da forma mais racional, mas claro que não estão.

 

Há uma regra geral de que uma organização pública, isolada do mercado, para além das conhecidas ineficiências, sai 30% mais cara do que uma equivalente privada. Quando o orçamento da saúde ultrapassa os 12.000 M€, o desperdício pode ultrapassar os 3.000 M€.

 

Acresce que o próprio modelo organizacional do SNS também é tacanho, os meios de produção são públicos, os trabalhadores são funcionários públicos e a administração é centralizada e por comando e controle. Sem exagerar, este é o modelo soviético. As filas à porta dos Centros de Saúde são o equivalente das filas à porta das padarias na URSS.

 

Devemos adotar uma postura à Javier Milei e “botar a picareta” no SNS? Penso que não, mas é necessário repensar todo o sistema. Talvez escopro, martelo e muito talento.

 

O número de instituições públicas deve ser fortemente reduzido e os seus objectivos reorientados. É necessário que busquem a excelência e que saiam da trela do Ministério da Saúde e das contingências do funcionalismo público.

 

A maioria dos hospitais e centros de saúde devem ser privatizados, deixando o mercado funcionar através do mecanismo de preços. O Estado deve financiar diretamente os utentes e deixá-los escolher os melhores prestadores.

 

Uniformizar é matar! Cada entidade deve tentar corresponder às necessidades locais e desenvolver serviços adaptados à procura.

 

É fácil de entender que não é possível ter restaurantes com estrelas Michelin em todos os botecos da província, mas na saúde pretende-se fazer o milagre da excelência ubíqua; uma pretensão que não passa de trapaça populista.

 

A uniformização forçada não elevou as unidades deficientes, mas rebaixou as que se destacavam. É assim que chegamos ao ponto de não termos, no País, nenhuma unidade de referência Europeia.

 

Em termos de gestão, surpreende-me o silêncio ensurdecedor dos gestores profissionais sobre a impossibilidade de gerir o SNS. Porquê?

 

A resposta não é bonita, mas é a que é. Há interesses que se movimentam no sentido de manter o “satus quo” porque é fácil corromper uma organização centralizada e politizada, como é o SNS.

 

Onde a população vê problemas e miséria, muitos vêem oportunidades e baús de ouro.

 

 

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