25 janeiro 2024

GESTÃO DA SAÚDE V

GESTÃO DA SAÚDE V

 

Formação médica


 

Qualquer organização necessita de dar formação aos seus colaboradores, sob pena de anquilosar e perder mercado.

 

A Microsoft, por exemplo, para além de parcerias com centenas de faculdades, chegou ao ponto de fundar uma universidade, a Microsoft University; tal é a importância da formação contínua.

 

O Serviço Nacional de Saúde, contudo, ignora esta necessidade e deixa ao critério de cada “operário”, a custas próprias, a sua própria educação.

 

Surge porém um problema de monta: os custos são astronómicos para as bolsas portuguesas. Permitam-me dar um exemplo relativo à Cirurgia Geral, que é a minha especialidade.

 

O básico é atender o Congresso Anual do American College of Surgery, que este ano vai ter lugar em Washington, de 6-8 de Fevereiro. A inscrição, hoje, fica por $990 dólares e a frequência de cursos extra pode custar mais $1000. Com viagens, hotel e refeições, não se faz a brincadeira por menos de $7000 dólares.

 

A assinatura de revistas médicas também é necessária. O New England Journal of Medicine ($149 anual online), a Surgery ($517 anual) e o American Journal of Surgery ($420 anual online), são essenciais.

 

Tratados da especialidade também são caros. O Schwartz’s custa $164 dólares e o Mastery of Surgery custa $459. Claro que estes livros saem cada 4 anos e necessitam de ser renovados.

 

Não há na Europa congressos com o mesmo interesse do congresso anual do ACS e é necessário ter em casa material de consulta para preparar a atividade do dia seguinte.

 

Sem ser exaustivo e com alguns acrescentos, estamos a falar de cerca de 10.000 €/ano. Ora como é possível suportar estas despesas com salários que raramente ultrapassam os €2.000?

 

Felizmente, o vazio educacional do SNS, foi suprido pela Big Pharma, que DESINTERESSADAMENTE financia a formação médica em Portugal. Pelo menos a formação dos diretores de serviço e de departamento, que têm a responsabilidade de desenvolver protocolos e de selecionar produtos e equipamentos.

 

Felizmente, também, estes colegas que se educam às custas dos laboratórios são pessoas imaculadas e acima de qualquer suspeita. Os laboratórios não os influenciam e eles não se deixam influenciar.

 

O facto de Portugal ser um dos países com mais elevado consumo de medicamentos/capita é apenas uma coincidência, que deve ser isolada de qualquer sugestão torpe.

 

Pensar que entregar a formação dos médicos aos laboratórios é como pôr “uma raposa a guardar o galinheiro” não faz sentido num país que é reconhecido internacionalmente pela ausência de corrupção.

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