04 janeiro 2024

AMOR

AMOR

 

No princípio era o Caos, a entropia absoluta com as suas próprias Leis, mas ininteligível para a mente humana. Depois surgiu o Logos e pudemos aspirar a conhecer o Universo.

 

Hesíodo, na sua Teogonia ou Genealogia dos Deuses (século VIII – AC) dá-nos um vislumbre do império da violência inerente ao caos. As divindades primordiais representam a ambição desmedida de poder, a violência e a luxúria. Patricídio, amputação genital, canibalismo, violações, lutas pelo poder, ódios e vinganças, são omnipresentes.

 

Zeus é glorificado por desmembrar o seu pai Cronos e atirar os seus restos para o ponto mais distante do Universo, criando o arquétipo do herói da antiguidade: um assassino determinado e sem escrúpulos, movido apenas pela ambição de poder.

 

O humanismo é fruto do Logos e floresce quando desviamos o nosso foco dos deuses primitivos para o homem, no contexto social. Paul Krause, no seu livro “The Odyssey of Love”, aponta a Ilíada, de Homero, como o símbolo literário do nascimento do humanismo, e a redenção de Aquiles como o reconhecimento do potencial do AMOR para salvar o mundo das paixões inerentes aos caos.



‹‹O amor implica relacionamentos. O amor implica empatia. O amor leva ao perdão e o perdão leva à recuperação. O amor é o que diviniza a natureza humana e dá significado e propósito à vida›› – Paul Krause.

 

Sem ordem, sem Leis, a humanidade abandona a civilização e regressa ao Caos, onde impera a violência e a guerra.

 

Penso que estamos a atravessar um momento de possível retrocesso civilizacional, com a desumanização dos adversários e inimigos, o desprezo absoluto pela vida humana e a manipulação da Lei para favorecer os amigos.

 

Na Ilíada, Homero refere-se com pormenor às vítimas da guerra de Tróia. Invoca os seus nomes e genealogia. Lembra-nos que as entranhas espalhadas por Tróia são de filhos, maridos e pais, amados e chorados pelas suas famílias.

 

A mãe que perde um filho na Rússia não sofre menos do que a mãe que perde um filho na Ucrânia. Não empatizar com o sofrimento humano é renegar o humanismo e deixarmo-nos guiar pelo ódio quando só o AMOR nos pode salvar.

 

A demonização dos outros não os torna menos humanos, mas torna-nos mais selvagens e nenhuma civilização pode sobreviver à selvajaria.

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