20 abril 2023

Por qué no te callas?

 



A comparação poderia ser feita entre os países do norte da Europa tocados pela influência protestante e os países do sul, predominantemente católicos. Mas é ainda mais clara quando se refere às Américas.  

Na América do Sul temos países de cultura católica, fruto da colonização portuguesa e espanhola. Na América do Norte temos países tocados pela influência protestante (calvinista/anglicana), fruto da colonização britânica.

O nível de vida em alguns desses países, medido pelo rendimento per capita (já depois de ajustado pelas diferenças do custo de vida) é o seguinte (índice expresso em percentagem do valor dos EUA)

América do Norte
EUA 100
Canadá 79.1 

América do Sul
Argentina 35.3
Brasil 23.4
Chile 41.4
Colômbia 24.5
Perú 20.5
Venezuela 11.2

Fonte: The Economist, "Pocket World in Figures 2022", London.

Na América do Norte temos dois países ricos, progressivos, um deles o país mais poderoso do mundo. Na América do Sul temos países pobres, alguns deles verdadeiramente miseráveis. Mesmo no país mais rico da América Latina (Chile) o nível de vida da população não chega a metade do americano. No mais pobre (Venezuela) vai pouco além dos 10%.

O que terá ditado esta diferença?

A cultura - a diferença entre o cristianismo calvinista e o cristianismo católico, e a mensagem que em cada uma Deus tem para com os pobres.

No cristianismo calvinista, Deus diz ao pobre: "Não tens vergonha!? Dei-te múltiplas capacidades de inteligência, força física, coragem para assumir riscos, etc., e tu não as utilizas para saíres da pobreza?"

No cristianismo católico, Deus diz ao pobre: "Coitadinho de ti, a culpa da tua situação é dos ricos".

Na América do Norte, calvinista, ser pobre é uma vergonha. Na América do Sul, católica, ser pobre é ser vítima, vergonha é ser rico.

É esta a mensagem da última Encíclica social do Papa Francisco (Fratelli Tutti, cf. aqui). 

Em matéria económica, seria bom que alguém um dia tivesse a coragem para dizer ao Papa Francisco: Por qué no te callas?

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