O caso que recentemente veio a público de um professor universitário que é acusado de pôr a mão na coxa da sua aluna (cf. aqui) poderia também ter ocorrido numa universidade privada. Mas ocorreu numa universidade pública.
A tese deste artigo é a de que este tipo de ocorrências é mais provável e frequente em universidades públicas do que em universidades privadas.
Numa universidade pública vive-se uma socieconomia semelhante àquela que recentemente descrevi como a Economia de Francisco, caracterizada pelo espírito de comunidade, pela dádiva e pela partilha. Os contribuintes pagam tudo (instalações, salários de professores, etc.) e põem à disposição da comunidade académica (professores, alunos) os bens de que esta necessita para levar a cabo a sua missão.
Tudo é visto como sendo propriedade comum que os contribuintes partilham com professores e alunos, e estes entre si - as instalações, as mesas, as cadeiras, o próprio conhecimento que é produzido na instituição e transmitido de professores a alunos. Todos estes bens são vistos como bens públicos, que pertencem a todos.
Esta cultura de comunidade, de gratuitidade e de partilha, uma cultura em que tudo é comum, ao cabo de se viver muitos anos nela produz generalizações que são perfeitamente compreensíveis, como por exemplo, a de considerar que as coxas das alunas (e também as das professoras) são propriedade comum dos professores, dos alunos e até dos funcionários da secretaria.
A coxa feminina passa a ser vista como um bem colectivo, de que todos julgam poder usufruir de forma totalmente comum e gratuita, como sucede com os outros bens que existem na instituição.
É diferente numa universidade privada, enformada pelos princípios do neoliberalismo. Aí, tudo é privado, as instalações, os móveis e as cadeiras, o próprio conhecimento que aí é produzido. A propina é o preço que os alunos pagam por este cabaz de bens que a universidade lhes oferece.
Numa cultura universitária de princípios neoliberais tudo é propriedade privada e tudo tem um preço. Havendo procura por parte dos professores (e demais homens que frequentam a instituição) para porem a mão na coxa das alunas, ou até das professoras, vai surgir uma oferta de coxas femininas, e um mercado para pôr a mão na coxa, só que, ao contrário das universidades públicas, esse bem vai ter um preço que varia em função da qualidade das coxas exibidas e provavelmente também do grau académico das suas detentoras.
O preço de pôr a mão na coxa funciona, portanto, como um poderoso desincentivo para um professor pôr a mão na coxa da sua aluna, ou um aluno fazer isso mesmo à sua colega de curso ou até à professora. Pelo contrário, na universidade pública, a ideia de que a coxa feminina é um bem público acessível a todos gratuitamente, torna o comportamento de pôr a mão na coxa um comportamento desbragado para o qual não existem limites.
No fim, aqueles universitários que defendem enfaticamente a universidade pública demonizando ao mesmo tempo a universidade privada e os princípios do neoliberalismo em que ela assenta (cf. aqui) podem muito bem ter um interesse escondido nessa defesa - o interesse de pôr a mão na coxa a preço zero.
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