15 dezembro 2022

Um juiz do Supremo (183)

 (Continuação daqui)




183. O juiz De Jesus

Segundo a imprensa portuguesa,

"Autoridades gregas abrem inquérito a eurodeputada acusada de corrupção" (cf. aqui).

A imprensa grega, porém, dá mais detalhes sobre o assunto. A abertura do inquérito criminal terá sido desencadeada por uma queixa de um juiz português, do Supremo Tribunal de Justiça, identificado nos autos por juiz De Jesus.

Segundo a queixa, o dinheiro que foi encontrado em malas na posse do pai da eurodeputada Eva Kaili (cf. aqui), num hotel de Bruxelas, não pertence à deputada, e muito menos ao pai dela. Pertence ao pai dele - dele, bem entendido, juiz De Jesus.

Trata-se de um processo que já corre há cinco anos nos tribunais portugueses e que já foi alvo de vários acórdãos, incluindo um acórdão do Supremo Tribunal de Justiça do país luso (cf. aqui), continua a imprensa helénica.

Tudo começou quando a eurodeputada Kaili veio de férias a Bragança (Portugal) e visitou a sua amiga Rita Monteiro, madrasta do queixoso, juiz De Jesus. Certa noite, estando ela a jantar num célebre restaurante de Gimonde, nos arredores de Bragança, recebeu a notícia da amiga de que o marido de 105 anos de idade tinha morrido nessa manhã e estava a decorrer o velório nessa mesma noite numa Igreja da cidade.

Antes de ir para a Igreja, a eurodeputada Eva passou por casa da amiga Rita para a confortar e, de caminho, recebeu três malas de dinheiro para pôr fora do país e do alcance dos filhos do falecido, um deles, o queixoso, juiz De Jesus.

O dinheiro pertencia aos três filhos mais velhos do falecido porque o juiz De Jesus já tinha afastado o mais novo - chamado Amílcar -, da herança do pai, ao murro e à pistola. O juiz contava, mais tarde, arrumar com os outros dois irmãos - um irmãos e uma irmã - através de processos judiciais, pelo que o dinheiro contido nas malas - era um dado adquirido desde já - lhe pertencia todo a ele. Só para que não restassem dúvidas.

Naquela noite, o queixoso, juntamente com o irmão Manuel, e mais dois comparsas, organizaram uma operação de vigilância e perseguição à deputada Kaili para lhe tirarem as malas com o dinheiro, mas a coisa não produziu frutos.

Depois de a sequestrarem, de a ameaçarem, de a molestarem fisicamente e de chamarem a GNR, chegou a patrulha que a revistou, bem como ao carro - um modesto Ford Fiesta alugado -  e à casa,  mas não encontrou malas nenhumas. Muito menos dinheiro.

Sabe-se agora - mas é demasiado tarde - o truque que a eurodeputada utilizou para iludir os seus perseguidores. Quando parou no caminho para casa, no Café Convívio, para comprar tabaco e tomar café, e também para fazer xixi, pediu à empregada do balcão que lhe guardasse três malas de roupa, que levantou no dia seguinte, quando regressou ao trabalho em  Bruxelas e ao Parlamento Europeu.

Ora, parece agora  de certo modo óbvio que as malas não continham roupas nenhumas, certamente que não roupas lavadas porque o cheiro que delas emanava era nauseabundo, devia ser das tintas, porque no Banco Central Europeu só usavam tintas mixurucas para fazer as notas.

Aquilo que mais afligiu as autoridades helénicas, segundo a imprensa, é que a queixa era acompanhada do acórdão do STJ português onde constava a informação  de  que o juiz De Jesus já tinha posto dez processos judiciais contra a madrasta, e a coisa podia não ficar por ali.

Este era o primeiro processo que o juiz De Jesus apresentava junto das autoridades gregas  contra a eurodeputada Eva Kaili, mas ele ameaçava na queixa que, se não obtivesse vencimento dentro de uma semana, iria colocar um novo processo a cada três dias - como já uma vez fizera aos directores do aeroclube de Bragança com imensos resultados, cf. aqui -, e entupir os tribunais gregos para a eternidade, como aliás já conseguira em relação aos portugueses.

A queixa vinha acompanhada de uma fotografia do juiz De Jesus, exibindo uma pistola Beretta de 6,35 mm e terminava com uma outra ameaça às autoridades gregas: "Ou vocês me dão o dinheiro dentro de uma semana ou eu estouro-vos os miolos. Eu fodo-vos!".

E foi, sobretudo, esta questão de foder que levou os gregos a porem o processo à eurodeputada Eva Kaili. Para esse efeito, entre o juiz De Jesus e a Eva, eles preferiam a Eva.


(Continua acolá)

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