24 dezembro 2022

Um juiz da Diocese (24)

(Continuação daqui)

Renata Patti, ex-focolarina: De animal doméstico a mulher livre (cf. aqui)


24. A mulher livre e o animal doméstico

Entre as posições defendidas pela Ana Loureiro (cf. aqui) e o juiz Patto (cf. aqui) acerca da prostituição, eu não tenho dúvidas em inclinar-me para as da Ana Loureiro. São as únicas racionais, as únicas livres e próprias de um mundo civilizado e decente.

Nas entrevistas que deu às televisões, em defesa da legalização da prostituição, ela foi ao ponto de abrir a sua vida privada ao público, para explicar porque é que se envolveu na prostituição: aos 24 anos, ficou sem marido e com dois filhos pequenos para sustentar.

E este é precisamente o primeiro momento para questionar o juiz Patto. Que alternativas pode o juiz Patto ou a associação "O Ninho" oferecer à Ana Loureiro, ou a outras mulheres como ela, para as afastar da prostituição? Nenhumas, como a própria Ana Loureiro já respondeu (cf. aqui). É só conversa, conversa fiada, moralismo puramente abstracto. Coisas concretas, um emprego, um rendimento, facturas pagas, nada.

Segundo ponto. Uma prostituta pode orgulhar-se de ganhar a vida pelo seu próprios esforço, tudo aquilo que ganha sai-lhe do corpo, no mais literal sentido da palavra, e eu imagino que os riscos da actividade são por vezes consideráveis. Já quanto às senhoras e aos senhores que trabalham para a associação "O Ninho", cai-lhes o dinheiro do céu, vem directamente do bolso dos contribuintes, através do lobbying político e, às vezes, do mais corrupto tráfico de influências. Neste último caso, nem vale a pena voltar a mencionar o juiz Patto.

Diz o juiz Patto também que em redor da prostituição existem várias formas de criminalidade. Ora, criminalidade existe em volta de todas as profissões, e eu tenho passado os últimos meses a mostrar a criminalidade que existe também em torno da profissão judicial, a qual tem uma agravante, que é a de em geral ficar impune. Esta impunidade dos juízes produz um efeito na sua personalidade que é muito patente no juiz Patto. Sabendo que nunca ninguém lhes vai às pernas, alguns juízes acabam a considerar-se uma espécie de santos. E, a partir desta plataforma de santidade, passam a sentir-se livres de cometer toda a espécie de crimes, tornando-se verdadeiros criminosos santificados.

Existe, depois, a questão, do proxenetismo. Claro que é mau haver pessoas a viver à custa dos outros. Mas isso não acontece só na prostituição, acontece também nas pessoas que, nas associações como "O Ninho", alegadamente se dedicam a proteger mulheres da prostituição. Vivem à custa dos contribuintes, uma situação que anteriormente designei por proxenetismo moralista. O próprio juiz Patto é, neste aspecto, um caso agravado porque os portugueses pagam-lhe para ele estar ao serviço da justiça no Tribunal da Relação do Porto, e ele utiliza uma boa parte desse tempo para andar por aí feito moralista desbragado a meter o nariz entre os pénis e as vaginas dos homens e das mulheres deste mundo.

Não é a primeira vez que afirmo que, se tivesse de definir o juiz Patto com uma só palavra, utilizaria  a palavra batoteiro. É isso que ele faz logo no título do seu artigo que tenho vindo a citar - "Legalizar a escravatura?". É que aquilo que se está a discutir é a legalização da prostituição, não a da escravatura. A pantominice intelectual que se segue a esta batota desafia toda a imaginação.

Na escravatura, uma das partes não tem vontade autónoma, uma das partes, o escravo, está submetida à outra, o senhor. Ao passo que a prostituição tem a forma de um contrato, em que um homem e uma mulher aceitam livremente os termos de uma troca. Desde que sejam ambos adultos e o acordo só produza efeitos entre as partes, ninguém tem nada que meter o nariz no que se passa entre eles. A fúria moralista e totalitária do juiz Patto de querer mandar nos corpos das outras pessoas passa todos os limites da razão e da decência. E isso leva-me precisamente ao último ponto.

Na Ana Loureiro eu vejo uma mulher racional e livre, uma mulher a quem as circunstâncias da vida colocaram certos dilemas, aos quais ela procurou dar a melhor solução que se lhe oferecia na altura, e ainda hoje parece não se arrepender das escolhas que fez. Ao passo que nas mulheres que são educadas no Movimento dos Focolares, de que o juiz Patto é um membro destacado, e de cujo órgão de propaganda é editor, eu vejo menos a figura de uma mulher racional e livre e muito mais a figura de um animal doméstico (cf. aqui).


(Continua acolá)

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