A turbulência que, de repente, se abateu sobre o Chega é um problema de crescimento e que tem dois protagonistas principais - o deputado Gabriel Mithá Ribeiro e o presidente do partido, André Ventura (cf. aqui).
Eu gostaria de confirmar, em primeiro lugar, que o factor que despoletou a turbulência foi a publicação, na página do facebook do deputado (cf. aqui), de um artigo publicado originalmente neste blogue com o título "decepcionado" (cf. aqui).
O presidente do partido não gostou e fez um ultimato ao deputado Mithá Ribeiro para retirar o artigo da sua página do facebook até às 24 horas de domingo, ou seria demitido das suas funções de coordenador do Gabinete de Estudos.
O deputado não retirou o artigo e na manhã seguinte foi demitido dessas funções. À tarde, foi a vez de o deputado se demitir de vice-presidente do partido, não sem anunciar também que já no início de julho tinha apresentado o seu pedido de demissão.
Portanto, a tensão já existia. O episódio do artigo foi apenas o rastilho, mas ele ilustra bem qual é o cerne da questão que está na origem da turbulência. Trata-se de um problema de liberdade de expressão.
O deputado Mithá Ribeiro queixa-se de falta de liberdade de expressão dentro do grupo parlamentar e do partido.
O Chega lamenta-se com frequência de que tem má imprensa, e isso é verdade. Porém, quando um deputado é convidado a dar uma entrevista por um órgão de comunicação social tem, primeiro, de pedir autorização ao presidente do partido, através de uma sua assessora, a qual frequentemente lhe é negada.
O deputado Mithá Ribeiro é um universitário e, portanto, um profissional da educação para quem a liberdade de expressão é um valor fundamental, sem o qual não poderia nunca exercer a sua própria profissão.
Ora, acontece também que, quando o Chega é chamado a intervir no Parlamento sobre educação, tendo o deputado Mithá Ribeiro já a sua intervenção preparada, o presidente do partido designa um qualquer outro deputado para fazer a intervenção, a quem não se reconhece particular competência para falar sobre o assunto.
A crise é de crescimento e de adaptação às novas realidades. Por detrás dos diferentes episódios e situações, fica a ideia de que o presidente do partido quer reservar todo o protagonismo político para si próprio, e não o permitir a mais ninguém.
Ora, o presidente do partido tem de se habituar à ideia de que o tempo do deputado único, em que ele era o partido e o partido era ele, já acabou, e que agora é apenas um primus inter pares.
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