A actual crise do Chega que tem como figura principal o deputado Gabriel Mithá Ribeiro é uma crise de crescimento do partido, mas não uma crise como as outras. Estas últimas têm sido crises centradas na discussão de pessoas ao passo que a crise Mithá Ribeiro é uma crise centrada na discussão de ideias.
Segue-se que esta crise não será resolvida com moções de confiança ao presidente do partido, André Ventura (cf. aqui). Na realidade, eu estou convencido que o deputado Mithá Ribeiro votará favoravelmente a moção caso ela venha a ser submetida a votação.
E que ideias pretende o deputado Mithá Ribeiro ver implementadas no Chega?
Em primeiro lugar, a própria ideia de liberdade de expressão que é condição sine qua non da discussão de todas as outras. Numa conferência de imprensa realizada no passado sábado em Leiria - distrito por onde é deputado - o professor Mithá Ribeiro queixou-se da falta de liberdade de expressão no Chega (cf. aqui). A queixa é tanto mais compreensível quanto é certo que, sendo um académico, a liberdade de expressão é um instrumento de trabalho indispensável ao professor Mithá Ribeiro.
Vencida esta dificuldade, quais as ideias que o deputado Mithá Ribeiro pretende ver discutidas no Chega?
Ideias programáticas, ideias que dêem corpo a uma conjunto de propostas programáticas nos vários campos da governação (justiça, economia, finanças públicas, saúde, ensino, etc.) e que façam do Chega um verdadeiro partido de governo, e não meramente um partido de protesto.
O Chega nasceu como um partido de protesto e um partido unipessoal centrado na figura do seu presidente que, como deputado único, se confundia com o partido - ele era o partido e o partido era ele. Porém, a partir de 30 de janeiro, o partido elegeu 12 deputados, e as decisões têm de passar a ser mais colegiais, e menos unipessoais. E outras sensibilidades, para além daquela que é própria do seu presidente, têm de passar a ser acomodadas no partido.
É esta a essência da crise Mithá Ribeiro: mais colegialidade e menos unipessoalidade; mais discussão sobre ideias e menos discussão sobre pessoas; mais pensamento estruturante e programático na acção do grupo parlamentar e menos imediatismo e guerrilha institucional; mais atracção de quadros, de intelectuais e de académicos, e menos hostilização destes grupos.
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