20 junho 2022

as Urgências

A presente crise do SNS - que me parece ser a mais profunda crise desde que foi criado - tem-se manifestado sobretudo nas Urgências dos hospitais - primeiro nas urgências de obstetrícia, mas generalizando-se depois às urgências de outras especialidades (v.g., ginecologia, pediatria) e , finalmente, às urgências em geral (como no Hospital de Faro, cf. aqui).

Porquê nas urgências, e não nos serviços normais de especialidade dos hospitais (pediatria, ginecologia, etc.) ou nos centros de saúde?

Porque é nas Urgências dos hospitais onde acabam por convergir todas as insuficiências dos serviços normais de de especialidade dos hospitais e dos centros de saúde.

Os portugueses já aprenderam que, em lugar de marcarem uma consulta de pediatria para os seus filhos no SNS (que pode demorar meses ou anos), a solução para serem atendidos com razoável rapidez, ainda por cima gratuitamente, é dirigirem-se à Urgência de um hospital do SNS. Aquilo que vale para  a pediatria vale para qualquer outra especialidade.

As Urgências ficam atafulhadas de pessoas, a maior parte das quais não tem qualquer problema urgente de saúde para tratar. Simplesmente, recorrer às Urgências é a única maneira de serem atendidas dentro de um prazo razoável.

A procura para os serviços de Urgência é enorme. A oferta é escassa porque os recursos (médicos, enfermeiros, equipamentos, etc.) são escassos. O resultado é o caos a que temos vindo a assistir nas Urgências. O SNS, para utilizar uma expressão popular, está a rebentar pelas costuras, e as costuras são os serviços de Urgência.

Dito de outro modo, as Urgências são a montra da grande crise que afecta o SNS. O armazém é ainda pior, precisamente porque está escondido do público.


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