18 janeiro 2022

dois liberalismos

O post anterior (cf. aqui) ilustra uma diferença fundamental entre o liberalismo do CHEGA, que é um liberalismo latino ou católico, e o liberalismo da IL, que é um liberalismo anglo-saxónico ou calvinista.

O liberalismo do CHEGA é um liberalismo comunitário, que dá grande importância à família e a outras formas de comunidade (v.g., grupo de amigos, terra natal, igreja, nação) ao passo que o liberalismo da IL é um liberalismo individualista, que dá mais importância ao indivíduo do que à comunidade.

Do ponto de vista económico, o liberalismo da IL é muito mais conducente ao enriquecimento material e à eliminação da pobreza. Basta ver o exemplo dos EUA - onde esse liberalismo atingiu a maior expressão -, que conseguiu resolver um problema que a humanidade procurava resolver há milénios - o problema de como tirar, em massa, o homem da miséria.

Não é fácil descortinar as razões por que a tradição portuguesa sempre rejeitou o liberalismo anglo-saxónico, mas, na realidade, assim aconteceu desde a Revolução Liberal de 1820. Em Portugal, Alexandre Herculano foi o maior expoente desse liberalismo no século XIX.

Provavelmente, uma das razões, senão mesmo a principal, é que o liberalismo anglo-saxónico, sendo individualista, destrói os laços comunitários que os portugueses muito apreciam, levando a relações sociais que, em muitos casos, são tensas, senão mesmo adversas ou inimigas.  A preservação da paz social pode ter sido a razão que levou a tradição portuguesa a rejeitar o liberalismo defendido pela IL.

A diferença entre o liberalismo da IL e o liberalismo do CHEGA exprime-se, por exemplo, na empresa que é típica de cada um destes liberalismos. Para o liberalismo do CHEGA a empresa paradigmática é a empresa familiar (cerca de três em cada quatro empresas portuguesas são familiares). Para o liberalismo da IL, a empresa paradigmática é a sociedade anónima.

A empresa familiar está, em primeiro lugar, ao serviço da família, enfatizando uma característica do liberalismo latino segundo a qual a economia está ao serviço da comunidade. Pelo contrário, a sociedade anónima não está ao serviço de nenhuma comunidade, mas ao serviço de uma massa anónima de indivíduos, designada abstractamente por mercado.

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