(Continuação daqui)
4. Tudo entre amigos
Corria o ano de 2015, o PSD estava no poder. O eurodeputado Paulo Rangel do PSD era ao mesmo tempo o titular do cargo público de eurodeputado e director da sociedade de advogados Cuatrecasas no Porto, onde ganhava 10 mil euros ao mês (cf. aqui), em cima do vencimento de eurodeputado.
A Cuatrecasas tinha, entre os seus clientes, o Hospital de S. João, cuja administração também era afecta ao PSD. A ala pediátrica do HSJ estava instalada em contentores metálicos, onde falhava o aquecimento no Inverno, chovia lá dentro, e havia pragas de moscas no Verão. A tudo isto as crianças lá internadas estavam expostas desde há anos.
A pedido da administração do HSJ, uma associação mecenática tinha iniciado a construção da ala pediátrica, contratando a obra com um consórcio de construtoras pelo preço de 20.2 milhões de euros, sem o Estado gastar um tostão.
Vendo que era a valer, um documento jurídico combinado entre a administração do HSJ e a Cuatrecasas-Porto - que eu viria a chamar de "palhaçada jurídica" num comentário televisivo (cf. aqui) - paralisou a obra que estava a ser feita por via mecenática.
A administração do HSJ, sempre com a assessoria da Cuatrecasas-Porto, incumprindo o Protocolo que tinha assinado com a associação mecenática, apropriou-se da obra que tinha sido iniciada pela associação e entregou-a a uma outra construtora pelo preço de 26.7 milhões de euros - estes pagos inteiramente pelo erário público, e mais de 30% acima do preço que tinha sido contratualizado pela associação mecenática.
Agora - entretanto chegamos a 2019 - veja como se desenrolou todo este processo:
1. O HSJ começou por constituir uma comissão liderada pelo Eng. Joaquim Poças Martins para decidir sobre a adjudicação da obra (cf. aqui) (Na imagem, todos os outros membros da comissão parecem ser funcionários do HSJ)
2. O Eng. Poças Martins é uma figura destacada do PSD de V.N. Gaia - de onde é oriundo também o eurodeputado Paulo Rangel -, tendo feito parte de um Governo do PSD liderado por Cavaco Silva, e tendo sido vice-presidente da Câmara de Gaia, quando esta era liderada por Luís Filipe Menezes (PSD) (cf. aqui).
3. O Eng. Poças Martins tinha-se entretanto candidatado a bastonário da Ordem dos Engenheiros da Região Norte, lugar que conquistou liderando uma lista afecta ao PSD (cf. aqui).
4. Da lista de apoio ao Eng. Poças Martins fazia parte o Eng. António Carlos Fernandes Rodrigues, que é hoje o seu delegado em Braga (cf. aqui).
5. Acontece que o Eng. António Carlos Fernandes Rodrigues também é o presidente do Conselho de Administração da construtora Casais, sediada em Braga (cf. aqui)
6.. Agora, adivinhe a quem é que a obra foi adjudicada (cf. aqui).
Conclusão: Ficou tudo entre amigos. O povo paga, como é costume. E não é pouco (cf. aqui).
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