CARTA ABERTA AOS MÉDICOS PORTUGUESES
‹‹As epidemias são fenómenos sociais e políticos com algumas implicações médicas›› – Rudolph Virchow
Prezados colegas,
O impacto do COVID-19 e das medidas de contenção têm tal magnitude que é necessário discutirmos este assunto na “praça pública”, abertamente e sem quaisquer rodeios.
A narrativa apocalíptica, a “covidização” do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e do sector privado da saúde, aqui incluindo os consultórios médicos, o confinamento de pessoas saudáveis e assintomáticas, a generalização do uso de máscaras, o higienismo e o distanciamento social, são fruto do pânico e da ignorância e, é necessário que o proclamemos bem alto, não têm qualquer justificação médica.
A narrativa apocalíptica, comecemos por aqui, devia ter sido imediatamente denunciada pelas Associações Médicas como falsa e alarmista, potencialmente maligna sob o ponto de vista social e indutora de comportamentos que, por si só, acarretariam consequências fatais. Estou a pensar nos idosos “abandonados” nos lares da terceira idade, por exemplo, pela ausência de funcionários compelidos a quarentenas questionáveis.
A covidização do Sistema de Saúde, no seu conjunto, constituiu e continua a constituir uma tragédia infame. Milhares de pessoas viram os seus tratamentos adiados e muitas centenas faleceram por falta de assistência médica.
O excesso de mortalidade verificado nos últimos meses, depois de excluir as fatalidades COVID, é o reflexo dessa falta de assistência e também do pânico incutido na população, que foge das urgências como o Diabo da cruz para falecer em casa, de forma prematura e desnecessária.
A profilaxia das doenças oncológicas estagnou e podemos garantir que a mortalidade relacionada com estas patologias irá explodir em breve. O cancro da mama e do cólon, para só falar destes, são curáveis se detetados numa fase inicial, mas, passando essa janela de oportunidade, tudo fica em causa.
A Ordem dos Médicos (OM) deve exigir o regresso à normalidade, deve exigir a des-covidização do Sistema de Saúde. Não faz sentido exigir testes de COVID a pessoas absolutamente assintomáticas, antes de intervenções programadas, quando não se exigem testes para outras doenças contagiosas, como a Hepatite B, o HIV ou a Tuberculose.
Por fim, é imperativo que os médicos denunciem as medidas governamentais de contenção do COVID-19 que não tenham fundamento na “legis artis”, na prática clínica consagrada pelo tempo, ou que sejam desproporcionadas face aos riscos existentes.
O confinamento de pessoas saudáveis e a generalização do uso de máscaras, especialmente em espaços abertos, não tem qualquer base científica. São medidas que nunca foram utilizadas no passado e que, por assim dizer, foram inventadas em 2020.
Impedir uma pessoa saudável e em idade ativa de sair de casa e trabalhar para “pôr pão na mesa”, para si e para os seus, é uma violação do direito à vida porque priva os cidadãos dos recursos necessários à sobrevivência. Quando vejo filas, à porta da sopa dos pobres, de vítimas das medidas extravagantes do governo para a “guerra ao Coronavírus”, sinto uma profunda tristeza e revolta.
O estatuto da OM determina que esta deve ‹‹contribuir para a defesa da saúde dos cidadãos e dos direitos dos doentes››. Descorando a verdade sobre a epidemia do Coronavírus e sobre as consequências das medidas de contenção, a OM poderá estar a violar os seus próprios estatutos. Estamos perante uma crise em que “calar é colaborar com o maior abuso de sempre perpetrado sobre a população portuguesa”. Milhares de médicos, por todo o mundo, estão a interpelar as respetivas associações profissionais, questionando a cobertura implícita que estas têm vindo a dar às medidas do governo; é necessário terminar com esta passividade cúmplice.
Na Alemanha, perante a relutância dos políticos em auditar as respostas ao COVID, foi organizado um “Inquérito COVID Extraparlamentar” que conta com a colaboração de muitos médicos especialistas em epidemiologia e doenças infectocontagiosas. Em Portugal poderemos ter de fazer o mesmo. (1)
Há dias fui surpreendido por uma declaração do nosso bastonário, o meu estimado amigo Dr. Miguel Guimarães, favorável à obrigatoriedade do uso de máscaras em espaços abertos, em todo o território nacional (2). Com todo o devido respeito e amizade, é necessário afirmar que esta declaração não tem fundamento científico sólido, nem corresponde às recomendações da OMS. (3) Iria, contudo, estimular o medo e a ansiedade da população.
Quando é necessário apaziguar o pânico e regressar logo que possível à normalidade, os médicos devem estar do lado da ciência, do bom senso e da razão. Temos de contribuir para que “a cura não seja pior do que a doença” porque esse é o nosso compromisso com a humanidade.
Joaquim Sá Couto
Médico
1. https://acu2020.org/international/
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