Carta que dirigi ao Sr. Presidente do Parlamento Alemão
INVESTIR NA MUDANÇA - Carta aberta
Uma das instituições que mais se tem destacado no combate à pandemia do Coronavírus, a Johns Hopkins University, dos EUA, inspirou-se na sua fundação no modelo universitário de Wilhelm von Humboldt e em particular na experiência da Universidade de Heidelberg, procurando transpor para a América a excelência do ensino da medicina que se reconhecia então à Alemanha (1876).
Tendo-me especializado em Cirurgia Geral e Vascular nos EUA (1982-1987) cedo me inteirei desta influência germânica, que o grande William Halsted reconhecia e proclamava. Influência que nunca me teria passado despercebida porque fui residente no Jewish Hospital de Nova Iorque, onde Rudolph Nissan, um dos mais notáveis cirurgiões alemães de sempre, operou Albert Einstein a um aneurisma da aorta abdominal em 1948.
Se devo aos EUA tudo o que sei e sou na medicina, “Diplomate of the American Board of Surgery – 1989”, nunca deixei de pensar na Alemanha como uma espécie de “alma mater” arquetípica da minha formação, até porque os meus antepassados também de lá imigraram para a minha cidade natal, o Porto, no início do século XX.
Dois eventos recentes inspiraram-me a redigir esta carta a Vª Exª:
1. O resultado excelente da Alemanha na luta contra o Coronavírus.
2. O destaque atribuído ao Charité – Universitätsmedizin Berlin, no ranking de hospitais da Time.
Ambos sublinham o regresso da Alemanha à primeira liga do ensino da medicina e da excelência dos cuidados de saúde e ambos destacam a enorme oportunidade que a pandemia do Coronavírus criou para expandir e reproduzir essa excelência pelo resto da Europa.
É tempo de abrir as fronteiras da UE à modernização dos sistemas de saúde, acabando com os sistemas públicos centralizados, subfinanciados e administrados por comando e controle, que se revelaram tão incapazes e insuficientes para lidar com a pandemia do Coronavírus.
É tempo de adotar sistemas abertos, baseados no mercado, concorrenciais, com liberdade de escolha para os beneficiários e garantias de qualidade idênticas às da Alemanha e dos EUA.
Quando se estima que as despesas com a saúde possam atingir, a médio prazo, cerca de 20% do PIB, as oportunidades que se vislumbram são imensas e melhorias serão apoiadas pelas populações de todos os Estados membros.
A ajuda que agora os Estados mais afetados pela pandemia de Coronavírus solicitam, faz sentido por troca com uma abertura dos respetivos sistemas de saúde e o reconhecimento da necessidade de investir em modelos que já deram provas. Sem modernização ficaríamos à espera na próxima pandemia, frágeis, impreparados e assustados. Não resolveria os problemas de base.
A Alemanha serviu de modelo às melhores instituições dos EUA, pode fazer o mesmo na Europa.
Joaquim Sá Couto, MD MBA
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