Os dados estatísticos disponíveis são ainda escassos para se poder chegar a conclusões definitivas. Mas,. dentre os dados que existem, parece que alguns padrões se começam a desenhar.
Um dos principais é o de que os dois países com a maior taxa de mortalidade atribuível ao coronavírus são os dois grandes países católicos do sul da Europa - a Itália, que é a capital do catolicismo, e a Espanha, que é o país que nos últimos cinco séculos mais se bateu pela cultura católica no mundo.
Deixarei de lado pequenos países como o catolicíssimo San Marino, onde a taxa de mortalidade é a mais alta do mundo, para me concentrar em países de média e grande dimensão. Nestes, a taxa de mortalidade regista os seus máximos em Itália (113 mortos por milhão de habitantes) e em Espanha (60). Pelo contrário, mesmo na China, onde o vírus terá tido origem, a taxa de mortalidade não vai além de 2 mortos por milhão de habitantes (cf. aqui).
Restringindo-me apenas à Europa, existe uma razão poderosa para que isto seja assim. A cultura católica prevalecente no sul da Europa é uma cultura muito mais comunitária do que a cultura protestante do norte da Europa, muito mais dada ao individualismo.
Os povos de cultura católica vivem mais em comunidade do que os protestantes, na família, no emprego, no grupo de amigos, na igreja. A própria palavra igreja (ecclesia) significa comunidade. E, talvez por isso, os povos de cultura católica, nas suas relações interpessoais, são mais dados ao contacto físico do que os protestantes.
Italianos, espanhóis, portugueses cumprimentam-se habitualmente de aperto de mão, de abraço (às vezes acompanhado de uma sonora palmada nas costas) e, sobretudo, de beijinho. Existe mesmo no sul da Europa católica um país cujo chefe de Estado facilmente seria considerado o rei dos beijoqueiros.
Porém, à medida que caminhamos para norte da Europa, para a Dinamarca, a Alemanha, o Reino Unido, a Suécia ou a Finlândia, o aperto de mão começa a escassear, o abraço desaparece (a grande palmada nas costas, essa, é considerada uma agressão) e o beijinho, nem vê-lo.
E quando são os europeus do norte a visitar os países católicos do sul, observa-se frequentemente a relutância com que eles acedem ao beijinho, que para os do sul da Europa é um sinal de carinho, mas para os do norte é uma fonte de contágio das mais variadas doenças.
Vários analistas têm-se questionado por que é que a Alemanha tem tão poucas pessoas infectadas por coronavírus. A razão pode estar aqui. A Alemanha é a pátria da cultura protestante, e nesta cultura as pessoas não gostam de se tocar.
Quando, daqui por algumas semanas, a vida voltar à normalidade, existem alterações que vão ficar para sempre. Uma delas, em Portugal e nos outros países de cultura católica, é uma rejeição crescente da cultura do beijinho.
O coronavírus parece ser um vírus anti-católico.
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