O grande mérito da greve organizada pelo sindicato dos motoristas de matérias perigosas, qualquer que venha a ser o seu desfecho final, foi o de chamar a atenção da opinião pública portuguesa para algo de que ela já não se lembrava.
É a de que há trabalhadores do sector privado no país.
Não há memória, desde há muitos anos, de uma greve de trabalhadores do sector privado com este impacto público.
Greves do sector público - dos professores, dos magistrados do MP, dos trabalhadores da CP, dos enfermeiros, dos funcionários judiciais, etc. - são correntes no país e os portugueses já se habituaram rotineiramente a elas.
São também as greves em que os próprios governantes e os boys dos partidos têm um interesse próprio envolvido, porque eles próprios são funcionários públicos.
Agora, uma greve do sector privado, isso é que tem sido verdadeiramente perturbador para o Governo e para a geringonça. É que muita gente já tinha interiorizado que os trabalhadores do sector privado não existiam, tal é a ganância dos do sector público em ocupar a comunicação social com as suas reivindicações quase em exclusivo.
Esta greve veio lembrar, por exemplo, que enquanto os funcionários públicos ganham em média 1500 euros ao mês, os do sector privado não chegam a mil.
Veio lembrar também, na semana em que os advogados do Estado (pomposamente chamados magistrados do MP) foram aumentados em 700 euros ao mês (e passam a poder ganhar acima do primeiro-ministro), os motoristas de matérias perigosas nem 700 euros ganham ao mês.
Os trabalhadores do sector privado em Portugal, que são cerca de 4 milhões, em comparação com os do sector público, que são 700 mil, devem estar imensamente gratos ao Pedro Pardal Henriques e ao Francisco São Bento.
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