Neste post pretendo discutir a relação que o Movimento dos Focolares tem com a liberdade de expressão, que é a liberdade fundacional da democracia.
O Focolares têm como valor principal a unidade (cf. aqui). Inpirados numa passagem dos Evangelhos em que Cristo pede ao Pai "para que todos sejam um só" (Jo: 17, 21) ), eles levam ao extremo o sentido comunitário da Igreja Católica e o seu desígnio de fazer de toda a humanidade uma família.
Ora, como é que se faz uma comunidade?
Uma comunidade faz-se com amor - "Amai-vos uns aos outros", proclamou Cristo - no sentido lato de caridade, de querer bem aos outros e de os tratar bem, uma comunidade faz-se, enfim, segundo a regra de ouro: "Faz aos outros aquilo que gostas que eles te façam a ti".
Segue-se que o primeiro sinal exterior de um focolare é a delicadeza ou simpatia com que trata os outros. Uma jornalista americana que se deslocou a Roma para entrevistar a superiora dos focolares, ficou impressionada com estre traço da cultura focolare. "Being nice", mesmo nas circunstâncias que em princípio poderiam parecer as mais impróprias, é uma marca distintiva dos focolares.
Nem poderia ser de outro modo. Ninguém consegue atrair pessoas e juntá-las a si e à sua comunidade sendo antipático, agreste ou ofensivo. Se o objectivo é unir todos numa só comunidade, fazendo com que todos sejam um, então a delicadeza nas relações pessoais é a regra número um.
Porém, também é verdade que, à medida que as pessoas aderem à comunidade focolare, e se tornam unas com aquelas que já lá estão, não precisam de liberdade de expressão para nada. A hierarquia estabelecida por aquelas que já lá estão fala por elas, e elas não têm nada a acrescentar àquilo que a hierarquia tem a dizer em nome de todas.
O Movimento dos Focolares tem sido por vezes criticado pela sua estrutura fortemente hierárquica e por apagar a personalidade dos seus membros (cf. aqui). Nem pode ser de outro modo. Quando todos são um, basta que um se exprima pelos outros todos.
O direito democrático à liberdade de expressão - que é o direito para criticar, divergir, protestar, dissentir - não tem valor nenhum nas comunidades focolares. Quando serve apenas para dizer bem, este direito não serve para nada e todos podem passar perfeitamente sem ele.
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