Aos nossos olhos de jovens adolescentes, a tia Rosa já tinha muita idade. Tinha a pele muito enrugada e nem um dente na boca. Prestava pequenos serviços ali na vizinhança, lavava e engomava roupa.
Aquele era um tempo em que se contavam anedotas e toda a gente sabia anedotas. A tia Rosa também. A particularidade da tia Rosa é que só sabia uma anedota.
Quando ia lá a casa, ainda mal tinha passado a ombreira da porta, e já todos lhe pediam excitados:
-Oh tia Rosa...conte lá a anedota do Tréculas...conte lá, tia Rosa...conte lá!....
Somente o pedido punha a tia Rosa a rir a bandeiras despregadas, abrindo-lhe a boca desdentada que ela envergonhadamente tapava com a mão esquerda.
A tia Rosa demorava muito tempo a recompor-se de toda aquela excitação. E só depois começava a contar.
Era a história de uma mulher que, quando o marido saía, metia lá homens em casa. E todos tinham uma alcunha.
Um dia, o marido saiu para o trabalho e passado meia-hora já alguém tocava à campainha.
Era o Tréculas.
Ela lá esteve com o Tréculas até que, passado um bocado, tocam à porta outra vez.
Aflita, pensando que era o marido, disse ao Tréculas para se esconder no sótão. E o Tréculas, atrapalhado, roupa debaixo do braço, assim fez, escadote acima, escondeu-se no sótão.
Ela vestiu o robe e foi abrir a porta. Mas não era o marido.
Era o Uns e Outros.
E ela lá ficou agora com o Uns e Outros durante um bom bocado. Até que tocam à porta outra vez.
Ela pegou no robe e, julgando que era o marido, disse ao Uns e Outros para se esconder debaixo da cama. E o Uns e Outros assim fez, arrebanhou a roupa à pressa e enfiou-se debaixo da cama.
Engano outra vez, não era nada o marido.
Era o Ó Menos Um.
Tréculas no sótão, Uns e Outros debaixo da cama, ela ficou agora com o Ó Menos Um. Até que tocam à porta outra vez. Na atrapalhação, ela escondeu o Ó Menos Um atrás da porta do quarto, vestiu o robe e foi abrir a porta.
Agora era mesmo o marido. Vinha muito cansado do trabalho. Tirou a roupa que trazia e pediu-lhe se ela subia lá acima ao sótão para lhe ir buscar o roupão.
Enquanto ela subia o escadote, o marido começou a olhar cá de baixo, e exclamou:
-Oh mulher...mas eu estou a ver-te o tréculas...
O Tréculas, pensando que era com ele, salta disparado do sótão, roupa debaixo do braço e sai espavorido porta fora.
O marido ficou estupefacto, não podia acreditar:
-Oh mulher...mas tu metes cá uns e outros em casa!?...
O Uns e Outros, nesse preciso momento, sai como um tiro de baixo da cama, direito à porta, e nunca mais ninguém o viu.
Foi então que a estupefacção do marido se converteu em genuína ira:
-Só quero apanhar ao menos um!...
Ao ouvir isto, o Ó Menos Um sai que nem uma seta de trás da porta do quarto em direcção à rua e desaparece para nunca mais ninguém o ver.
Era assim a anedota do Tréculas, contada pela tia Rosa. Ela só sabia esta.
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