Num post anterior referi que o pior erro que um Partido liberal pode cometer em Portugal é o de se pôr contra a Igreja Católica. O catolicismo português tem muito más memórias do liberalismo nacional do séc. XIX. E com razão.
Pelo contrário, disse então que, nas condições actuais, a Igreja Católica pode ser um grande aliado de um Partido liberal português.
Quanto a bibliografia, entre todas as Encíclicas de cariz económico-social que foram produzidas pela Igreja desde o Concílio Vaticano II, a que melhor faz a defesa do liberalismo é a Centesimus Annus (cf. aqui).
Foi publicada em 1991 pelo Papa João Paulo II (embora eu acredite que, na sua maior parte, foi redigida pelo então Cardeal Ratzinger, actual Papa Emérito Bento XVI).
Como referência para cativar o eleitorado católico - que é a maioria do eleitorado português - é muito importante.
Cito da Encíclica, sobre a comparação entre socialismo e capitalismo:
"(...) pode-se, porventura, dizer que, após a falência do comunismo, o sistema social vencedor é o capitalismo e que para ele se devem encaminhar os esforços dos países que procuram reconstruir as suas economias e as suas sociedades? É, porventura, este o modelo que se deve propor aos países do Terceiro Mundo que procuram a estrada do verdadeiro progresso económico e civil?
Se por 'capitalismo' se indica um sistema económico que reconhece o papel positivo da empresa, do mercado, da propriedade privada e da consequente responsabilidade pelos meios de produção, da livre criatividade humana no sector da economia, a resposta é certamente positiva, embora talvez fosse mais apropriado falar de 'economia de empresa', ou de 'economia de mercado', ou simplesmente de 'economia livre'".
Noutra passagem, sobre a afectação dos recursos:
"Tanto no âmbito de cada nação, como no das relações internacionais, o livre mercado parece ser o instrumento mais eficaz para dinamizar os recursos e corresponder eficazmente às necessidades".
Sobre o lucro:
"A Igreja reconhece a justa função do lucro, como indicador do bom funcionamento da empresa: quando esta dá lucro, isso significa que os factores produtivos foram adequadamente usados e as necessidades humanas correlativamente satisfeitas".
Citar o Papa João Paulo II, aliás, S. João Paulo II - que é um Papa, aliás, um Santo, de quem os portugueses gostam muito - sobre estas matérias é um certificado de credibilidade aos olhos da esmagadora maioria dos portugueses.
1 comentário:
ao mesmo tempo do Papa São João Paulo II não nos podemos esquecer da Veritatis Splendor (o esplendor da Verdade)
Caro Pedro Arroja, sobre os portugueses gostarem muito do Papa São João Paulo II talvez assim seja entre o povo, e aqui temos um bom exemplo.
É curioso como tendo o Papa São João Paulo II na Familiaris Consortio, na Veritatis Splendor (o esplendor da Verdade) e também na homilia de 15 de Maio de 1982 em Braga referido explicitamente que vem da Sagrada Escritura, das palavras de Jesus, o facto da Igreja não permitir os divorciados recasados acederem à comunhão da Eucaristia (excepto se viverem como irmãos), alguns dos nossos bispos já guardaram este ensinamento do Papa São João Paulo II na gaveta e já promovem o "discernimento" para poderem comungar mesmo não vivendo como irmãos (ou pelo menos tentando esse caminho com a devida contrição).
Outro exemplo de «os portugueses gostarem muito do Papa São João Paulo II» é esse Papa ter promulgado a 3ª edição do missal romano em 2002 e os nossos bispos continuam a não a utilizar porque não gostam das orientações de tradução que o Papa São João Paulo II lhes deu (voltadas a ser pedidas pelo Papa Bento XVI). Não sei se isto lhe diz algo mas em Espanha já usam a 3ª edição do missal de 2002 com essas orientações de tradução , o que faz com que do lado de cá da fronteira na consagração do Sangue do Senhor o sacerdote diga que é «derramado por todos» e do lado de lá o sacerdote diz que é «derramado por muitos» (como sempre se disse segundo a Tradição). Curioso gosto pelo Papa que faz com que uma fronteira altere as palavras do Senhor.
obrigado pelas suas análises sobre o liberalismo e a compatibilidade com o catolicismo, estão a ser uma leitura interessante.
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