Marcello Caetano sobre política partidária (1973):
"Não é difícil fazer uma adesão teórica às democracias, mas veja o que elas deram nomeadamente no caso português: lutas sociais, injustiças económicas, lutas partidárias que provocaram muito mais esterilidade do que criação, os velhos quadros partidários nos comandos e uma permanente dificuldade de renovação, a imprensa chamada 'livre' à ordem dos grandes interesses, a anarquia no ensino, uma sociedade hesitante perante uma dúzia de propostas contraditórias em que ninguém sabe mas não ousa confessar para onde conduz os seus adeptos.
"No entanto, eu creio que é numa sociedade equilibrada e pacífica que as pessoas desejariam viver.
"Repare ainda numa coisa que é muito importante: esta actividade a que chamam vulgarmente «política» e que pode ser elemento de perturbação duma sociedade inteira, passa-se ao nível de uma minoria, muitas vezes divorciada do que efectivamente constitui a Nação.
"A Nação está para além dos cafés de Lisboa, dos escritórios dos advogados, dos vários centros dessa actividade. A Nação é constituída por todas as outras pessoas e que naturalmente se preocupam com aquelas coisas mais comezinhas de que já lhe falei: querem ordem nas ruas, querem a defesa das suas pessoas e dos seus bens, querem trabalho certo e salário digno com o qual possam assegurar a sua subsistência e a dos seus, ter uma habitação decente, educar os seus filhos. Estas é que são as grandes aspirações e as grandes liberdades que os povos desejam e que aos governos cabe primeiramente assegurar"
(António Alçada Baptista, Conversas com Marcello Caetano, Lisboa: Moraes Editores, 1973, pp. 62-63)
1 comentário:
Muito bom ter transcrito parte desta notável entrevista. Ainda antes do 25...
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