Em termos económicos, o regime do Estado Novo tinha uma economia muito liberal. Medindo pelo principal indicador - a percentagem da despesa pública no PIB - o peso do Estado na economia era apenas 16% à morte de Salazar em 1968.
Marcelo Caetano possuía tendência sociais democráticas que Salazar não apreciava, e nos seis anos da sua governação fez subir o peso do Estado para 20%.
Foi este Estado pequeno, que, em termos económicos, quase não se fazia sentir, que vivia lá longe no Terreiro do Paço, muito certinho, dando o exemplo, cumprindo escrupulosamente os seus compromissos, governado por pessoas de bem, todas com uma profissão que não era a de político, foi este Estado - dizia -que permitiu o crescimento extraordinário da economia portuguesa no post-Guerra.
Marcello Caetano diria mais tarde que Portugal estava em vias de se tornar "uma Suíça". E tinha razão.
Um economista que olhe para os números económicos daquela época não pode deixar de se interrogar como é que um país que crescia daquela maneira fez uma revolução. Não foi certamente por motivos económicos. Foi a Guerra do Ultramar.
Sem uma tradição ideológica e de partidos, a revolução trouxe o vazio. E, depois, Portugal fez aquilo que sempre fez - imitou aquilo que se passava lá fora, o socialismo democrático ou social-democracia, representados pelo PS e pelo PSD que governaram o país desde então.
Os ideólogos, Mário Soares e Francisco Sá Carneiro, eram de vão-de-escada, ainda que a Mário Soares se pudesse reconhecer uma certa coerência ideológica e, sobretudo, um certo cosmopolitismo. A Sá Carneiro nem isso.
A novidade que tinham para oferecer era pôr o Estado a gastar dinheiro, imitando o Estado-Providência do norte da Europa. E foi isso que fizeram. Nesse período, a mensagem liberal de um Estado pequeno dificilmente conseguia passar. Sempre propensos à novidade que vem de fora, Estado pequeno já os portugueses tinham tido. Queriam agora era experimentar o Estado grande.
Mas hoje que o Estado pesa quase 50% do PIB, que o PS e o PSD já fizeram o Estado gastar todo o dinheiro que tinha, e aquele que não tinha, que os escândalos e as ineficiências em torno das instituições do Estado são notícia quase diária, que a economia está paralisada há quase vinte anos, eu penso que é este o momento ideal - como não existiu outro desde 1974 - para que a mensagem liberal de um Estado pequeno e um Estado- pessoa-de-bem seja popular outra vez.
A este propósito, estou muito mais optimista do que o Carlos Guimarães Pinto na entrevista que deu ao ECO (cf. aqui).
Cheguem-se à frente que não faltarão pessoas para apoiar. E o alvo que têm pela frente - o centrão do PS e do PSD - é de tal modo grande que até um mau atirador, mesmo de costas, lhe consegue acertar.
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