05 dezembro 2018

Uma iniciativa do PS


A segunda notícia publicada hoje sobre a ala pediátrica do HSJ está praticamente em todos os órgãos de comunicação social, como, por exemplo, a RTP (cf. aqui) e o Expresso (cf. aqui).

Tem uma história interessante.

Quando no dia 7 de Setembro assisti nos noticiários televisivos a uma iniciativa em favor do Joãozinho (cf. aqui) a minha reacção, para além da surpresa, foi mista. A iniciativa era da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto e tinha como organizador principal um senhor de nome Júlio Roldão.

A parte que gostei era a de que a iniciativa se destinava a promover a construção da ala pediátrica do HSJ. Por isso, não foi com surpresa que vi o Presidente Pinto da Costa a bramar contra o Governo por a obra não avançar.

O Presidente Pinto da Costa é um grande mecenas da Associação Joãozinho. Um jantar de gala realizado no Pavilhão do Estádio do Dragão em Março de 2015, cortesia do F.C. Porto, rendeu à Associação Joãozinho 250 mil euros em apenas uma noite.

Não fiquei sequer surpreendido de ver o Professor Sobrinho Simões entre as figuras públicas presentes, porque ele também tinha estado nesse jantar de gala em favor do Joãozinho. E quanto ao arquitecto Siza Vieira, coloquei-me na posição dele e, se me pedissem, faria o mesmo que ele fez - pronunciar-me para que fosse construída a ala pediátrica do HSJ, retirando as crianças da situação deplorável em que se encontram.

Mas houve dois pormenores que me deixaram apreensivo. O primeiro era o de que, utilizando o nome do Joãozinho, esta iniciativa passava uma mensagem pública que não era a da Associação Joãozinho. A mensagem era a de exigir ao Governo que fizesse a obra, ao passo que a mensagem oficial da Associação Joãozinho é a de exigir ao Governo que mande desimpedir o espaço para que a obra possa prosseguir.

O nome e a imagem do Joãozinho foram criados no  HSJ e cedidos à Associação Joãozinho quando esta se constituiu em Janeiro de 2014. A Associação possui, portanto, desde então, todos os direitos sobre o nome e a imagem. Ora, o nome  do Joãozinho estava ali a ser utilizado sem o conhecimento da Associação Joãozinho e para um fim - o de exigir  ao Governo que fizesse a obra - que não era da Associação Joãozinho. Tratava-se de uma utilização não-autorizada e abusiva.

No dia seguinte, fiz um telefonema ao senhor Júlio Roldão que, pela reacção, estava à espera dele, e que amavelmente acedeu a reunir-se comigo para falarmos sobre o assunto. Recebi-o dias depois, acompanhado por uma outra directora da Associação.

Era notório o seu embaraço. Poucos minutos depois de nos termos sentado, já queria dar por terminada a reunião, sob o argumento de que não nos queria fazer perder tempo. Mas nós tínhamos ainda algumas coisas para lhe dizer e algumas perguntas para lhe fazer.

Apresentou-se como sendo um jornalista reformado do JN e que apenas participara naquela iniciativa pela importância da causa e a pedido de algumas pessoas. Mas, apesar da insistência da nossa parte, nunca identificou essas pessoas. Em breve, o meu espírito apontava na direcção da administração do HSJ, cujo presidente tinha estado presente.

Fiz-lhe saber a preocupação da Associação em proteger o nome Joãozinho. Embora não fosse o caso dele, dei-lhe como exemplo um caso recente em que estava a ser organizado um jantar de recolha de fundos, envolvendo centenas de pessoas, utilizando o nome e a imagem do Joãozinho, e em que a Associação teve de intervir.  (Desde que a obra parou que a Associação não toma qualquer iniciativa de angariação de mecenas. Dinheiro para quê, se a obra está parada?).

Portanto, se queria utilizar a marca Joãozinho, pedia-lhe o favor, da próxima vez, que nos desse conhecimento prévio.

Um último tema da reunião foi significativo, quando a directora da Associação que estava comigo, lhe fez algumas perguntas acerca do abaixo-assinado e, em particular, a seguinte: "Havia algum mecanismo de controlo das assinaturas, por exemplo, a indicação do número de cidadão?".

A resposta foi não. Quer dizer, a mesma pessoa podia assinar com mil nomes diferentes.

E assim nos despedimos. A sensação com que fiquei foi a de que havia ali coisas escondidas - como os nomes dos promotores da iniciativa - e um certo ar de trapalhada - como a utilização abusiva do nome Joãozinho e a liberalidade das assinaturas -, de que as figuras públicas que acederam a participar certamente não estavam a par.

O resultado foi conhecido hoje. O abaixo-assinado em favor do Joãozinho recolheu 27 mil assinaturas. Resta saber quantas foram feitas pela mesma pessoa.

Na altura, fez-me lembrar as maneiras de actuar dos partidos políticos.

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