24 novembro 2018

O fantasma é título

Gostaria aqui de exprimir num conjunto de frases tão sucintas quanto possível os pensamentos que me ocorreram ao ler o título de uma notícia do JN de hoje (p. 20) sobre a obra do Joãozinho:

Arroja só angariou até hoje 2,8 milhões de euros para o Joãozinho

1) E o Governo, quanto é que angariou? Zero. E, pelas palavras de ontem do Primeiro-Ministro, fica claro que até ao final do seu mandato este montante não aumentará.

2) E o JN, quanto é que contribuiu para essa iniciativa cívica no sentido de acudir aos filhos dos seus leitores do Porto e do Norte, que são, maioritariamente, a mão que lhe dá de comer? O mesmo que o Governo angariou para fazer a obra.

3) "Só"? Eu diria, excelente. A obra estava no começo e esse montante era mais que suficiente para pagar os trabalhos que estavam em curso até ao momento em que a obra foi interrompida. O grosso dos mecenas, como estava previsto, viria com o decorrer da obra.

4) O "até hoje" é totalmente descabido. Desde o momento em que a obra foi parada, há quase três anos, que não mexo um dedo para angariar mecenas. Ninguém dá dinheiro para uma obra parada.

5) Ao contrário da Associação Joãozinho, que lhe facultou toda a informação, nunca o JN teve acesso à informação necessária para confirmar a existência dos 19,7 milhões de euros que a administração do HSJ diz ter para fazer a obra. Nem mesmo os deputados da Nação o conseguiram.

6) É significativa a pessoalização: "Arroja", e não "Associação Joãozinho".

7) A direcção editorial do JN já se apercebeu do conflito nascente entre a cidade do Porto e o Governo e toma partido do lado errado. É "Porto vs. Governo" e não "Arroja vs. Governo", e o lado certo não é nem o Governo nem o Arroja, mas o Porto (e as suas crianças).

8) Este título é propaganda política, e não jornalismo. São conhecidas as simpatias da direcção editorial do JN  pelo Partido do Governo.

9) Embora a intenção pareça ser outra, o JN está a dar vida ao fantasma. O fantasma é hoje título de página inteira de um dos maiores jornais nacionais. 

1 comentário:

dfrodrig disse...

Então não era só um milhão? O JN anda confundido nas fontes... :-)