17 abril 2018

etérea

Existem agora duas obras para a construção da ala pediátrica do HSJ.

Uma é da Associação Joãozinho, está no terreno e, embora boicotada desde há dois anos, está pronta a ser retomada imediatamente. Foi sobre esta que falei ontem para a RTP3 (directo) e para a TVI (não-directo) e hoje falarei para o JN.

Outra é promovida pelo Governo, tem como principal intérprete o Ministro da Saúde, e é etérea. Foi esta que ontem dominou os meios de comunicação social e sobre ela só posso exprimir alguns factos e fazer outras tantas especulações.

O Presidente da República, embora no estrangeiro, há-de estar a pressionar fortemente o Governo para resolver o problema da ala pediátrica do HSJ.

O Governo remete o assunto para o Ministro da Saúde embora, naturalmente, o apoie. Por isso, o Ministro da Saúde aparecia ontem acompanhado do Primeiro-Ministro perante as câmaras de televisão.

O  presidente do HSJ, segundo os jornalistas que ontem me entrevistaram, já se recusa dar a cara por esta obra, e não presta declarações.

O ónus está agora todo sobre o Ministro da Saúde e a sua estratégia de comunicação é a seguinte:

i)) Nunca fala na Associação Joãozinho, como se ela não existisse e não estivesse no terreno. A propaganda oficial faz o resto - a RTP1 foi ontem o exemplo -, referindo-se a uma obra mecenática parada por falta de dinheiro, quando a realidade é diferente.

ii) Procura ganhar tempo e implicar o Ministro das Finanças.  Segundo ele, a autorização (do Ministro das Finanças) virá dentro de duas semanas.

Ora, esta obra não está prevista no OE2018 e, para o Ministro das Finanças, abrir excepções seria abrir a porta ao descalabro.

Existe um conflito que é público entre o Ministro das Finanças e o Ministro da Saúde. O mais provável é que o Ministro das Finanças se recuse a dar a "autorização" para esta obra em 2018; o melhor que pode fazer será inscrevê-la no OE2019.

Neste conflito, o Primeiro-Ministro parece ter uma posição de neutralidade ("Resolvam lá isso entre os dois").

Mesmo que a autorização fosse dada, teria de ser lançado em seguida um concurso público internacional para a obra que, se não houver contestações, demora cerca de um ano. Havendo-as, pode demorar muito mais.

Terá de haver também negociações com a Associação Joãozinho que será sempre colaborante, desde que essa colaboração implique o avanço imediato da obra, e não a sua remissão para as calendas gregas.

Por isso, eu estou agora a ser procurado pelos jornalistas. Digo a verdade. E se esta verdade chegar ao público, e não fôr abafada pela propaganda, o público não vai gostar:

a) Desde há dois anos que o Ministério da Saúde boicota a obra do Joãozinho.
b) A Associação Joãozinho está pronta a retomar a obra imediatamente.
c) A obra de que fala o Ministro da Saúde nunca será iniciada, na melhor das hipóteses, antes que decorra ano e meio.

Se esta verdade acabar por chegar ao público, há, pelo menos,  dois responsáveis que não vão poder manter-se nos lugares que presentemente ocupam: o Ministro da Saúde e o Presidente do HSJ.

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