04 abril 2018

o seu próprio doente

A sessão de hoje (4ª) do meu julgamento estava prevista só para a tarde, entre as 14 e as 17 horas. A razão é que na sessão anterior, que estava prevista para o dia inteiro, o juiz foi destacado para um outro julgamento da parte da tarde, e fez transitar a sessão da tarde para hoje.

Hoje, ocorreu outro imprevisto. Às 14:00 horas o juiz foi chamado para um julgamento sumário, e a sessão do meu julgamento só começou cerca das 15:20, terminando às 17:00.

Foi, portanto, uma sessão muito curta. E foi totalmente preenchida com a testemunha Filipe Avides Moreira, actual director da Cuatrecasas-Porto, sub-director na altura dos factos e, como ele próprio admitiu, braço direito do então director Paulo Rangel.

Foi interrogado pelo magistrado do MP, durante mais de hora e meia. Terá de comparecer outra vez na próxima sessão, marcada para 4 de Maio,  para depôr perante os advogados de acusação e de defesa. Foi, de longe, o interrogatório mais longo a uma testemunha desde que este julgamento começou.

E porquê?

Para responder a esta pergunta, eu talvez devesse começar por dizer que, à saída da sala de audiências, uma colega de profissão do Dr. Avides Moreira, que tinha assistido à sessão e a quem pedi para comentar o seu depoimento, me disse assim: "Hoje saio daqui enojada", e desandou Tribunal fora sem me explicar a razão.

Fiquei a pensar na essência da mensagem que o Dr. Avides Moreira procurou transmitir ao Tribunal durante mais de uma hora e meia de interrogatório, e que motivava tão inusitada reacção da parte da sua colega de profissão, uma vez que é normal existir entre os advogados um espírito corporativo muito elevado.

Cheguei à seguinte conclusão:

A partir da segunda sessão do julgamento, tornou-se meridianamente evidente que os administradores do HSJ se conluiaram com os advogados da Cuatrecasas para boicotar a obra do Joãozinho. Esta evidência tornou-se ainda mais reluzente na sessão seguinte.

E que mensagem veio hoje o Dr. Avides Moreira passar ao Tribunal?

Que o boicote à obra do Joãozinho foi feito pelos administradores do HSJ, sem qualquer intervenção ou participação da Cuatrecasas.

Deve ser, de facto, muito penalizante para um advogado ver um colega a incriminar os seus próprio clientes. É como um médico ver um colega a matar o seu próprio doente.

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