No passado mês de Julho fui conhecer a nova directora da ala pediátrica do Hospital de S. João, professora Maria João Baptista. Ela recebeu-me no seu gabinete improvisado no barracão metálico. Tinha assumido funções recentemente, em substituição do professor Caldas Afonso.
Meses antes, o professor Caldas Afonso tinha aceite um convite do Centro Materno-Infantil do Norte, ligado ao Hospital de S. António, que tinha sido recentemente inaugurado e, com parte da sua equipa, transferiu-se para lá.
Tinha sido um duro golpe para o Hospital de S. João, na sua rivalidade com o S. António. Para mim, não constituía admiração. O professor Caldas Afonso chefiava aquela que era por vezes considerada a melhor equipa de pediatria do país - e fazia-o há dez anos numa construção feita de contentores metálicos. Tudo tem limites.
O objectivo da minha visita era pôr a professora Maria João a par do trabalho da Associação Joãozinho em prol da pediatria do HSJ, e dar-lhe a conhecer as razões por que a obra estava interrompida havia agora mais de um ano.
Também ia informá-la acerca dos esforços que a Associação tinha feito junto do Ministério da Saúde e da administração do Hospital para que o espaço fosse desocupado e a obra pudesse prosseguir. Dali - expliquei-lhe -, eu iria sair directo para mais uma reunião com o presidente do Hospital.
A professora Maria João Baptista recebeu-me como se eu fosse um inimigo e o grande responsável por ela, o seu pessoal e, sobretudo, as crianças doentes, continuarem internadas naquele miserável barracão. Valeu-me estar presente o director administrativo da Pediatria, Dr. Manuel de Melo, que, em parte, tinha acompanhado o meu trabalho desde o início à frente da Associação.
Demorei mais de uma hora a repor a verdade e, quando saí dali, não vinha nada convencido de ter conseguido. A imagem do diabo não se desfaz numa hora. A campanha que tinha sido iniciada há um ano atrás, tinha produzido plenamente os seus efeitos - certamente nela.
O santo era o Ministro da Saúde, que queria fazer a obra. O diabo era eu que não a deixava fazer.
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