Nessa manhã de Junho cheguei do Porto com muita antecedência a Linhó, nos arredores de Sintra. Estive sentado a tomar uma café numa pequena esplanada no centro da vila, enquanto fazia horas para a reunião.
Era a primeira vez que estava em Linhó e a vila tinha um significado especial para mim desde criança. Quando, em miúdo, brincava nas ruas do meu bairro de Lisboa e alguém fazia alguma maroteira, havia logo quem avisasse: "Ainda vais parar ao Linhó..."
Em Linhó situava-se uma das mais conhecidas prisões para homens dos arredores de Lisboa. Passaria por ela cerca de um hora depois, a caminho da sede da Somague, que fica a cerca três minutos de distância. Eu tinha uma reunião marcada com o presidente para convidar a empresa a participar no concurso para a construção da nova ala pediátrica do HSJ.
Quando, por essa altura, visitei todas as construtoras que havia selecionado para o concurso, com idêntico propósito de as convidar, havia sempre um momento em que, antes de entrar, eu ficava a contemplar o edifício da sua sede, e depois de entrar, antes de me identificar perante o segurança, a contemplar o interior.
E tinha sempre a mesma pergunta no espírito: "Será que eu gostaria que esta empresa construísse a minha própria casa?". Depois de visitar todas as construtoras, reparei que só tinha respondido sim duas vezes - à Somague e à Mota-Engil.
A secretária fez-me entrar numa sala de reuniões, onde aguardei de pé. Pouco depois, entrava o presidente da empresa, acompanhado de um director. Sentaram-se na parte lateral, e eu na outra, de frente e alinhado com o presidente. Era um homem alto e forte, na casa dos sessentas anos,com um ar muito sério, senão mesmo carrancudo.
Senti-me um pouco inseguro. A indústria da construção atravessava uma enorme crise, as empresas estavam altamente endividadas e sem obras para fazer - o mercado das obras públicas tinha secado com a austeridade imposta pela troika. A Somague tinha uma grande parte da sua actividade na construção de auto-estradas, e agora não havia auto-estradas para abrir.
Pensei por um momento que aquilo que eu ia propor ao presidente da empresa, ainda por cima sem dinheiro, não devia ter interesse nenhum para ele. Senti o risco de, mal começasse a falar, ele pôr fim à conversa e a mim fora da sala.
Comecei por explicar o que era a obra do Joãozinho. Quando estava em Lisboa, eu dava sempre explicações mais detalhadas, porque as pessoas já tinham certamente ouvido falar do HSJ, mas estavam distantes e não sabiam o que lá se passava. No Porto era diferente, quase toda a gente já tinha ouvido falar do Joãozinho e da ala pediátrica do HSJ.
Falei-lhe da Mota-Engil e do "Milagre das Manuelas" e disse que, em última instância, a Mota-Engil faria aquela obra. Mas que o Eng. Arnaldo Figueiredo me havia sugerido que organizasse um concurso e, entre as empresas que me indicou, estava a Somague. Falei-lhe também dos progressos que tinha conseguido nos últimos meses a angariar mecenas.
Eu vinha convidar a Somague para se apresentar ao concurso.
Levava comigo duas diskettes contendo os projectos de arquitectura e de engenharia da obra e um pequeno dossier, contendo as condições do concurso, encimado por uma carta minha dirigida ao presidente da empresa, e em que explicava a natureza mecenática da obra.
Nesse momento, eu ia começar a descrever o conteúdo da minha carta e as condições em que lançava o concurso. Do outro lado uma face muito séria escutava-me em silêncio e olhava fixamente para mim. Foi nesse instante, mais do que em qualquer noutro, que eu senti que as coisas poderiam correr mal.
Respirei fundo e apelei a todos os meus recursos oratórios. A Associação Joãozinho não tinha dinheiro, nem património, e por isso não tinha garantias para dar. Pagaria um milhão de euros de sinal com o início da obra e o resto a dez anos, em prestações anuais. A única garantia que tinha para lhe dar era a minha palavra.
Antes de terminar, apelei ao sentido de humanidade dele e do director que o acompanhava. Esta era uma obra para homens, porque era uma obra destinada a crianças. E calei-me, tinha estado quinze minutos a falar ininterrupta e tensamente. Por uns momentos, fiquei à espera da reacção.
O presidente levantou-se lentamente da cadeira, os olhos sempre fixos em mim, inclinou o corpo sobre a mesa na minha direcção, estendeu-me a mão que apertou firmemente, e disse-me:
-Dou-lhe muitos parabéns pela obra que está a fazer...A Somague vai-se apresentar ao concurso...
Respirei fundo outra vez, mas desta vez de alívio.
E, depois, veio a surpresa. Eu tinha estado a falar para o Eng. Rui Vieira de Sá, um homem do Porto e distintamente nortenho - concluiria eu logo depois -, que conhecia muito bem a carência do HSJ e há muito que ouvia falar desta obra.
Falei-lhe da Mota-Engil e do "Milagre das Manuelas" e disse que, em última instância, a Mota-Engil faria aquela obra. Mas que o Eng. Arnaldo Figueiredo me havia sugerido que organizasse um concurso e, entre as empresas que me indicou, estava a Somague. Falei-lhe também dos progressos que tinha conseguido nos últimos meses a angariar mecenas.
Eu vinha convidar a Somague para se apresentar ao concurso.
Levava comigo duas diskettes contendo os projectos de arquitectura e de engenharia da obra e um pequeno dossier, contendo as condições do concurso, encimado por uma carta minha dirigida ao presidente da empresa, e em que explicava a natureza mecenática da obra.
Nesse momento, eu ia começar a descrever o conteúdo da minha carta e as condições em que lançava o concurso. Do outro lado uma face muito séria escutava-me em silêncio e olhava fixamente para mim. Foi nesse instante, mais do que em qualquer noutro, que eu senti que as coisas poderiam correr mal.
Respirei fundo e apelei a todos os meus recursos oratórios. A Associação Joãozinho não tinha dinheiro, nem património, e por isso não tinha garantias para dar. Pagaria um milhão de euros de sinal com o início da obra e o resto a dez anos, em prestações anuais. A única garantia que tinha para lhe dar era a minha palavra.
Antes de terminar, apelei ao sentido de humanidade dele e do director que o acompanhava. Esta era uma obra para homens, porque era uma obra destinada a crianças. E calei-me, tinha estado quinze minutos a falar ininterrupta e tensamente. Por uns momentos, fiquei à espera da reacção.
O presidente levantou-se lentamente da cadeira, os olhos sempre fixos em mim, inclinou o corpo sobre a mesa na minha direcção, estendeu-me a mão que apertou firmemente, e disse-me:
-Dou-lhe muitos parabéns pela obra que está a fazer...A Somague vai-se apresentar ao concurso...
Respirei fundo outra vez, mas desta vez de alívio.
E, depois, veio a surpresa. Eu tinha estado a falar para o Eng. Rui Vieira de Sá, um homem do Porto e distintamente nortenho - concluiria eu logo depois -, que conhecia muito bem a carência do HSJ e há muito que ouvia falar desta obra.
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