09 agosto 2017

um passo de gigante

Uns dias depois recebi um telefonema da Mota-Engil. O Eng. Arnaldo Figueiredo pretendia falar comigo. Marcámos para o dia seguinte.

A minha expectativa era contida. Estávamos no auge do período de austeridade imposto pela troika, e o sector da construção atravessava uma severa crise. Tinham fechado milhares de empresas de construção nos últimos anos. Os bancos restringiam o crédito e as empresas do sector desalavancavam-se a muito custo. Mesmo as maiores permaneciam fortemente endividadas.

A obra tinha um valor considerável para o mercado português. Apareciam apenas duas a três obras por ano desta dimensão, contra as sete ou oito dos anos áureos, mesmo se, para a facturação anual da  Mota-Engil, a nível mundial,  ela representasse apenas dois a três por cento.

O Eng. Figueiredo sentou-me numa mesa redonda - a mesma onde estivéramos cerca de dez dias antes - e ele próprio se sentou à minha frente.

Foi então que me disse:

-Não sei que milagres é que o senhor andou por aí a fazer... mas a Dra. Manuela Eanes não pára de falar de Lisboa ... e a Dra. Manuela Mota não tem feito outra coisa senão andar por aí a bater às portas dos administradores...

E, depois de um pausa:

-Nós vamos fazer a obra nas condições que propõe.

Quem me estivesse a observar e me conhecesse deveria ter observado a face mais encantada que o meu rosto alguma vez conseguiu fazer.

Agradeci muito, e peguei numa folha de papel para começar a tomar notas. O Eng. Figueiredo indicou-me a empresa de fiscalização que eu deveria contactar, e sugeriu-me uma condição que prontamente compreendi.

A Mota-Engil é uma grande empresa e tudo o que faz está sujeito a um grande escrutínio público. Por isso, para que tudo isto não parecesse um processo fechado, sugeriu-me que lançasse um concurso. Como a Associação Joãozinho não recebe fundos públicos, o concurso poderia ser privado.

Perguntei-lhe quais as empresas que deveria convidar. Indicou-me seis. Eram as maiores do país. Nas condições em que eu lançava o concurso - sem dinheiro e sem garantias - era pouco provável que alguma se apresentasse ao concurso. A Mota-Engil apresentar-se-ia sempre e, portanto, em última instância, seria ela a fazer a obra.

Despedi-me dele com um abraço fraterno e comovido.

O sonho ganhava realidade. O primeiro passo estava dado. E era um passo de gigante.


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