Passados alguns meses do meu envolvimento com o Joãozinho, um homem com muita experiência na vida e, ao mesmo tempo, um grande mecenas desta obra, fez-me chegar, por interposta pessoa, a seguinte mensagem: "Para levar esta obra até ao fim, o Professor António Ferreira ou o Professor Pedro Arroja, ou os dois, vão ter de dar o corpo às balas".
Por essa altura, eu já tinha compreendido que esta missão me competiria a mim sozinho.
A primeira conversa que tive sobre o assunto e donde é que mais provavelmente haveria de aparecer o mal, aconteceu logo no início, estava eu a trabalhar há dois meses na angariação de mecenas. Foi com vista para o Tejo, na sede da Fundação Champalimaud, em conversa com a Dra. Leonor Beleza.
Estava uma tarde tão boa nesse dia 3 de Abril de 2014 que, a certa altura, lhe disse que se não estivesse ali, estaria certamente àquela hora a fazer jogging sobre os passadiços de Miramar e Francelos, junto ao Senhor da Pedra. Foi quando ela apontou alto para a parede por detrás do sofá onde eu estava sentado. Virei o pescoço e vi um quadro do Senhor da Pedra. Ela era natural dali, e isso foi uma surpresa para mim.
Conhecia a Dra. Leonor Beleza da televisão e dos jornais desde há quase trinta anos, desde o tempo em que ela tinha sido ministra do primeiro Governo maioritário do Professor Cavaco Silva. Porém, nessa tarde era a primeira vez que estava em pessoa com ela.
Na altura escrevi para jornais e comentei bastante aos microfones da TSF sobre a sua acção à frente do Ministério da Saúde. Ela e o ministro das Finanças Miguel Cadilhe acabariam por sair precocemente do Governo e eu lamentei em ambos os casos porque os considerava precisamente os dois melhores ministros do Governo.
Em relação à Dra. Leonor Beleza eu tenho algo mais a dizer. Quando um homem comenta sobre uma mulher (ou vice versa) é impossível ele desligar-se da sua condição de homem a contemplar uma mulher.
E se muitos anos mais tarde, eu viria a ter um breve momento de evitável fama por dizer na TV, em relação a um grupo de mulheres da política portuguesa, que não as queria nem dadas, é justo também que diga agora que, desde a primeira vez que a vi eu sinto que, se algum dia tivesse de pedir em casamento uma mulher da política portuguesa, essa mulher seria a Dra. Leonor Beleza.
Porquê?
Porque sim. Sempre gostei dela, não sei porquê, é o chamado amor sem razão, o amor espontâneo, o amor de Deus - ágape.
Ela foi muito atenciosa comigo. Considerou o Projecto muito valioso e a missão da nossa Associação extraordinária. Conversámos longamente sobre o tema. Fez-me muitas perguntas sobre o andamento do Projecto e, em particular, sobre a receptividade da indústria farmacêutica. E foi ela a primeira pessoa a alertar-me para os riscos que poderiam vir do Estado - eram muitos e ela mesmo particularizou alguns.
Como Ministra da Saúde ela também tinha dado o corpo às balas, apesar de ser mulher. E saiu-lhe caro. Na altura não compreendi bem porquê. Lembro-me de a ver abatida na televisão, acompanhada da mãe, que também estava a ser alvo de acusações - acusações de homicídio.
Hoje, compreendo melhor. Era o início da politização da justiça, da luta política conduzida através da justiça, e que na prática conduziria à destruição da justiça. O Ministério Público era o protagonista e emergia então na comunicação social até se tornar hoje, talvez, um dos seus actores principais.
Naturalmente, avaliei com "Excelente" a reunião que tive na Fundação Champalimaud.
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