23 agosto 2017

aos domingos

Quando, em Agosto, interrompi o trabalho para férias, o Projecto Joãozinho estava a carburar a todo o vapor. Tinham sido sete meses de trabalho intenso e imensamente gratificante. O concurso para a obra estava lançado, a qual seria, em última instância, realizada pela Mota-Engil. A receptividade junto dos mecenas potenciais tinha sido excelente. Novas avenidas tinham sido abertas para o financiamento da obra.

No regresso de férias, passaria à concretização.

As reuniões executivas semanais tinham lugar aos domingos, pelas seis da tarde, com a presença dos três membros da direcção, duas senhoras que se ocupavam dos contactos com os mecenas, e do Manuel Eanes - ocasionalmente, também algum convidado, como o Professor António Ferreira e outros administradores do HSJ.

A razão para as reuniões serem aos domingos é que o Manuel Eanes, sendo embora presidente do conselho fiscal, desde o início que se implicou muito no Projecto do Joãozinho e, como trabalhava em Lisboa, só vinha a casa no Porto aos fins-de-semana.

As reuniões tinham lugar no edifício-sede de uma empresa que tem o meu nome e de que eu sou acionista maioritário. Embora a Associação Joãozinho tivesse a sua sede oficial na morada do HSJ, todo o trabalho executivo era conduzido a partir de uma sala nesse edifício que eu tinha cedido à Associação (*).

No final de Julho, eu não tinha mãos a medir. As oportunidades que se abriam eram imensas. A nova ala pediátrica estaria equipada com uma sala de computadores onde os jovens internados poderiam prosseguir à distância os seus estudos. Iniciei negociações - neste momento interrompidas - com multinacionais informáticas para fornecerem o equipamento e darem o nome à sala, em troca de uma contribuição de cem mil euros por ano, durante cinco anos.

A sala de jogos prevista para a nova ala pediátrica já tinha sido prometida ao F. C. Porto, muito antes de eu assumir o Projecto, e até já existia um vídeo-simulação. O presidente do clube e muitos dos seus jogadores desde o início que participavam em eventos de fund raising do Joãozinho. Caber-me-ia a mim mais tarde, quando fosse oportuno,  negociar a contribuição mecenática do clube.

Uma multinacional farmacêutica há muito que tinha falado com o Professor António Ferreira acerca do seu interesse em instalar na nova ala pediátrica uma pequena unidade de preparação de medicamentos - medicamentos cuja eficácia é aumentada quando preparados imediatamente antes da toma - e estava pronta a pagar bem pelo espaço. Tinha chegado finalmente o momento de dar realidade à ideia.

No Porto Canal, às Segundas-feiras, eu falava frequentemente sobre o Joãozinho e dava conta dos seus progressos. Muitas contribuições anónimas começaram a cair na conta bancária da Associação. E pessoas condenadas em tribunal por pequenos os delitos (v.g., condução sob o efeito de álcool) escolhiam agora a Associação Joãozinho para pagarem as suas penas.

As oportunidades eram tantas que, por esta altura, eu já estava convencido que, em lugar dos dez anos que inicialmente tinha previsto,  seria capaz de pagar a obra até ao final do prazo da sua execução, que é de dois anos. Precisava era de um banco para intermediar a operação porque muitas das receitas viriam em forma plurianual, algumas ao longo de dez anos.


(*) Tempos depois, quando o palerma do Rangel apresentou a queixa-crime contra mim no DIAP, onde me exige uma indemnização de 50 mil euros para ele, outro tanto para a sua sociedade de advogados, diz que eu sou a face visível de várias sociedades financeiras, uma delas sediada "numa das mais conhecidas vias da Cidade do Porto, a Avenida de Montevideu, num emblemático e valiosíssimo edifício...".
E conclui: "O demandado é, por isso, pessoa que vive com desafogo, de condição económica alta, que se desdobra em actividades académicas e do mundo financeiro e em empresas de gestão de fortunas e investimentos" .
É preciso não ter vergonha.

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