Nas 95 teses que postou na porta da igreja, Lutero poderia ter indicado pelo menos algum dos inúmeros bens que a Igreja trouxe ao mundo e de que continuava a ser portadora no seu tempo. Mas não. As suas teses diziam respeito exclusivamente aos males que ele via na Igreja da altura.
Foram os males que chamaram a atenção pública - os bens nunca o fariam - e que puseram toda a vida da Igreja sob discussão pública. A partir daqui a divisão da comunidade estava consumada - uns a acusarem a Igreja, outros a defendê-la - e o cisma tornou-se inevitável.
Foi a concentração no mal que chamou a atenção do público.
E porquê?
A vida é feita de bem e de mal, mas o bem prevalece largamente sobre o mal. O mal é raro, exprime-se em acontecimentos raros e inusitados. O bem é vulgar, o mal é excepcional. Mas precisamente por ser excepcional é que chama a atenção do público, algo que o bem - sendo vulgar - nunca será capaz de fazer.
Estava dado início com Lutero a uma cultura (protestante) que é pública precisamente porque põe o ênfase no mal. Kant - o filósofo do protestantismo - daria seguimento a esta cultura ao dar o título de Crítica - que significa dizer mal - às suas principais obras. É esta cultura protestante, centrada no mal, e oriunda da Alemanha que nas últimas décadas tem invadido Portugal.
Quem abrir um jornal ou escutar um telejornal verá que 80 a 90% das notícias dizem respeito ao mal - incêndios, mortes, corrupção, violência, acusações infundadas, burlas, roubos, etc. O bem, para ser reportado, precisa de ser heróico ou absolutamente extraordinário, como um milagre. E, no entanto, a vida é feita muito mais de bem do que de mal, e seria impossível de outro modo.
A comunicação social hoje em dia passa uma imagem do país que é exactamente o contrário daquilo que ele é - algo que o Chesterton há mais de um século já tinha observado na sua muito democrática Inglaterra.
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