É, talvez, a única cultura em que aqueles que nascem nela são absolutamente livres - e possuem um forte incentivo cultural -, para dizer mal dela. Um homem que se sente mal no meio onde nasceu, que está de mal com tudo aquilo e todos aqueles que o rodeiam, é um candidato ideal a emigrar. E, portanto, a ir espalhar pelo mundo a cultura onde nasceu. É assim que ela se torna católica ou universal.
É um paradoxo, mas o catolicismo é feito de paradoxos, e daí a dificuldade em o racionalizar. Este paradoxo foi colocado da forma mais sucinta que conheço num episódio que me contaram e que teve lugar há uns anos no Bombarral.
Vários homens conversavam num pequeno grupo e, naturalmente, diziam mal de Portugal e dos portugueses. Entre eles, estava um homem de mais de oitenta anos, que tinha levado uma vida de empresário. Foi este que, depois de algum tempo a ouvir os outros, decidiu a certa altura falar.
Para dizer o seguinte: " Pois... mas eu viajei e conheci ao longo da minha vida todos os países do mundo... e, francamente,... nunca encontrei um país para viver tão bom como esta merda".
A conclusão não podia ser mais clara: a melhor coisa do mundo é, ao mesmo tempo, uma merda. E, na realidade, é, porque o catolicismo instila no espírito humano um padrão que as outras religiões não instilam, certamente que não no mesmo grau - a ideia de um mundo celestial que é perfeito. Talvez esteja aqui a explicação do paradoxo.
Entre os intelectuais, este paradoxo exprime-se frequentemente em eles falarem do catolicismo sem saberem daquilo de que estão a falar. Atribuem ao catolicismo coisas que ele não é nem diz, criam um espantalho, e depois dizem mal do espantalho.
Aconteceu recentemente à Maria Filomena Mónica, o que motivou uma resposta pronta e certeira do Padre Portocarrero de Almada. Ela reagiu.
Ora, as reacções dos intelectuais quando se vêem em terreno movediço acerca do catolicismo são também inteiramente previsíveis - Cruzadas, Inquisição (incluindo o episódio de Galileu) e expulsão dos judeus - e a Maria Filomena Mónica não fez excepção.
É claro que eu não vou dizer aqui que a Inquisição foi uma coisa boa. Mas vou dizer que foi a resposta menos desumana que se podia conceber às desumanidades que, na altura, se cometeram sobre a Igreja Católica e os povos de cultura católica.
Mas aquilo que mais me surpreendeu na argumentação da Filomena Mónica foi o facto de, após ter puxado pelos seus galões de socióloga, apresentar apenas, em abono da sua tese, um livro sobre o Cristianismo escrito aparentemente por um anglicano - o que não é propriamente prova de imparcialidade -, e um sketch dos Monty Python.
A Maria Filomena Mónica diz gostar de polémicas. Claro que gosta. Da verdade é que ela não gosta nada, porque a verdade não admite polémica.
6 comentários:
Ai a merda das caixas de comentários...
Entre os intelectuais, este paradoxo exprime-se frequentemente em eles falarem do catolicismo sem saberem daquilo de que estão a falar. Atribuem ao catolicismo coisas que ele não é nem diz, criam um espantalho, e depois dizem mal do espantalho.
BINGO! Ora agora acertou mesmo em cheio.
Já conheci "intelectuais" que, sem sequer saberem quem e quantos são os evangelistas, criticavam e interpretavem passagens da Bíblia. Que sem sequer saberem como participar numa missa católica, criticavam e comentavam o celibato dos padres e afirmavam que "a Igreja tem que mudar". Que julgavam que as congregações eram "entidades obscuras e pouco transparentes, sem controlo", até serem surpreendidos com o esclarecimento de que as congregações respondem em última instância perante a autoridade e o escrutínio papal.
Poderiámos também mencionar as interpretações ignorantíssimas (admitindo que era mesmo só ignorância) que a nossa comentadoria agnóstica tirava das palavras de Bento XVI, cujo humor atingiu o ponto mais alto quando andaram a escrever por aí que o Papa se opunha à presença da vaca e do boi no Presépio.
Recordo um colunista que se referiu uma vez ao milagre da multiplicação como uma parábola (ainda recordo a barbaridade: "...o parabólico milagre da multiplicação...").
E mais exemplos poderíamos encontrar. Mesmo fora do catolicismo. Um amigo meu, avesso a religiões em geral, criticava os protenstantes, achava-os esquisitos, porque, dizia ele "não deixavam as mulheres usar calças".
Enfim, é por isso que já não discuto religião com essa gente. Apontamos factos, e respondem-nos com inverdades, mitos, e wishful thinking.
Essa argumentação não faz qualquer sentido e por duas razões:
1. Porque a Inquisição foi na realidade um tribunal político, embora mascarado de religioso. (Basta ver as resistências que houve em Roma para a sua implantação por cá, p.ex., em Roma bem sabiam da coisa)
2. Porque não tem pés nem cabeça pensar na Inquisição como resposta feita dentro de um país ao que se passava naquela época a milhares de quilómetros.
“É claro que eu não vou dizer aqui que a Inquisição foi uma coisa boa. Mas vou dizer que foi a resposta menos desumana que se podia conceber às desumanidades que, na altura, se cometeram sobre a Igreja Católica e os povos de cultura católica.”
Penso que para se falar de Inquisição primeiro tem de se fazer um enquadramento histórico. Depois explicar as diferentes inquisições não só nos mesmos países como em países diferentes. Depois de tudo isto quando se for falar das inquisições autorizadas pela igreja católica, inevitavelmente acabamos, pelo menos no meu caso, mesmo não sendo um estudioso sobre o assunto, admitindo que foi necessária, benevolente, prudente, inovadora, e que o direito que hoje temos, a ela muito deve. Não estou a afirmar que não houve injustiças, mas daí afirmar que foi uma barbárie ou coisa parecida é não conseguir destinguir a noite do dia.
“... penso que agnósticos, como eu, têm direito a falar sobre o que se passa dentro e fora da Igreja Católica, ...”
É pena a senhora não explicar o quê, ou quem, lhe concedeu esse direito. De onde ou como obteve esse direito. Será por se ser agnóstico/a esse directo é automático? Será que como agnóstica, também tem o direito de falar sobre o islão ou o judaísmo?
Também se esqueceu de complementar o direito de com a inevitável obrigação de.
Depois de ter lido com atenção o que a senhora escreveu, mais uma vez parece-me estar ausente uma discussão construtiva.
Nada de novo.
A
Acredito que o milagre da multiplicação dos pães não passou de uma interpretação do resultado da partilha da comida que cada um trazia.
Como católico não preciso de magia para acreditar.
"Acredito que o milagre da multiplicação dos pães não passou de uma interpretação do resultado da partilha da comida que cada um trazia.
Como católico não preciso de magia para acreditar"
É uma opinião. Cada um tem a sua. O que conta é a VERDADE.
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